Angola representa um ponto de entrada estratégico para uma parte do mercado africano, com grande potencial para um contínuo crescimento devido ao seu clima de estabilidade e aos termos favoráveis do seu quadro de investimento em geral, afirmou, neste sábado, o embaixador Francisco da Cruz.
O chefe da missão diplomática angolana na Etiópia durante um encontro virtual, a partir de Addis-Abeba, e que teve como oradora a Comissária angolana da União Africana para a Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável, Josefa Sacko, com participação da comunidade angolana .
O diplomata sustentou a sua afirmação no facto de o país estar situado entre a África Austral e a Central, sendo membro activo quer da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) quer da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC).
De acordo com uma nota da embaixada a que a Angop teve cesso, Francisco da Cruz sublinhou que a Agenda de Desenvolvimento do Executivo Angolano tem em conta não só as necessidades e as expectativas nacionais de crescimento, mas também as oportunidades decorrentes da dinâmica económica regional e da possibilidade da criação de parcerias ainda mais estreitas e diversificadas com países considerados importantes e estratégicos em várias partes do mundo.
Por seu turno, a comissária da UA, Josefa Sacko, debruçou-se sobre o sector agrário em vésperas da Independência Nacional até ao actual momento, sem esquecer os 27 anos de guerra civil.
Frisou que o país, antes da independência, foi o maior exportador mundial de banana, segundo exportador mundial de farinha de peixe, segundo produtor mundial de açúcar, terceiro produtor mundial de café, quarto produtor mundial de algodão, primeiro exportador africano de carne bovina e segundo exportador africano de sisal.
Com a chegada da paz definitiva, em 2002, segundo a diplomata, as esperanças renasceram e Angola começou com a enorme tarefa de reconciliação e reconstrução do país com vista a encontrar o caminho certo para o seu desenvolvimento através do sector agrário.
Josefa Sacko afirmou que quando, em 2004, Angola definiu a sua Estratégia de Combate à Pobreza, a segurança alimentar apareceu como um dos eixos prioritários de intervenção do governo, evidenciando um claro sinal de vontade política para tratar esta questão.
Considerou o sector agrícola importante, não só quanto à promoção da auto-suficiência e da segurança alimentar, mas também quanto ao fornecimento de matérias-primas para a indústria transformadora e para a criação de emprego, um dos problemas cruciais das áreas rurais, numa perspectiva de diversificação da economia.
Conforme Josefa Sacko, a Declaração de Malabo fornece orientações claras sobre a transformação da agricultura africana para o período 2015-2025, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Detalhado da Agricultura em África (PDDAA), adoptado numa cimeira da UA realizada em 2003, em Maputo (Moçambique).
A Declaração de Malabo, surgida em 2014, reafirma a decisão de aumentar o investimento na agricultura, com a alocação de pelo menos 10 por cento dos orçamentos nacionais.
No concernente ao alcance dos objectivos e metas da Declaração de Malabo, Angola regista fracos níveis de cumprimento, exceptuando-se os relativos à Perda após colheita; Salubridade dos alimentos; Políticas comerciais intra-africanas e condições institucionais; Capacidade de Angola para Planeamento e Monitorização e Avaliação Baseada em Dados.
As baixas performances, cujo valor mínimo aceitavel é 10, nas quais o país precisa de melhorar, referem-se ao Compromisso com a reafirmação do processo do PDDAA (8,18); Financiamento do investimento na agricultura (3,23); Eliminação da pobreza através de agricultura (0,75); Resiliência às Alterações Climáticas (6,72); Responsabilidade mútua por acções e resultados (6,00).
Entre conclusões e recomendações relativas aos desafios e oportunidades de Angola, Josefa Sacko enunciou a necessidade de investir-se na reforma agrária, no aumento da produção e da produtividade, onde os rendimentos ainda são muito baixos, aumentar as terras irrigadas, a utilização sustentável de fertilizantes e o acesso à mecanização.
Recomendou ainda a aposta de investimento na autonomização das mulheres, visto que dados recentes mostram que estas representam cerca de 70 por cento da mão-de-obra agrícola em África e desempenham um papel central na segurança alimentar das famílias.
A diplomata manifestou-se, igualmente, favorável ao investimento na juventude, sendo que 70 por cento da população africana tem menos de 35 anos de idade e a digitalização da agricultura afigura-se como uma oportunidade para África tirar partido da sua juventude.
Para a comissária da UA, devem ser aproveitadas as oportunidades criadas pela Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA) para aumentar o comércio inter e intra-regional de produtos e serviços agrícolas como meio de alcançar uma segurança alimentar e nutricional sustentável em Angola.
Outro alvo de investimento é, na sua óptica, a economia azul, com um enorme potencial, cuja estratégia continental contempla a pesca, aquicultura, protecção dos ecossistemas marinhos, entre outras áreas.