O presidente da República, João Lourenço, disse hoje que “os Estados defendem sempre a justiça independentemente dos rostos que estejam em causa”, respondendo à questão de um dos jornalistas presente durante a inauguração da nova sede do Instituto Geológico de Angola, quando questionado se o Estado angolano saíria em defesa de Isabel dos Santos devido à nacionalização da Efacec pelo governo português.
Solicitado a esclarecer a sua resposta, João Lourenço negou entrar em detalhes dizendo que a questão estava respondida.
A nacionalização da Efacec pelo governo português, surge na sequência do envolvimento da filha do ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, no caso ‘Luanda Leaks’, no qual o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação revelou, em 19 de janeiro passado, mais de 715 mil ficheiros que detalham alegados esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido que lhes terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano através de paraísos fiscais.
Depois das revelações do “Luanda Leaks”, Isabel dos Santos foi obrigada a desfazer-se das participações que detém em muitas empresas portuguesas, incluindo a Efacec, EuroBic e tantas outras, mas devido ao cenário económico atual, a empresária não conseguiu encontrar um comprador.
No dia 25 de junho, a Efacec anunciou ter recebido “cerca de uma dezena” de propostas não vinculativas de grupos industriais e fundos de investimento, nacionais e internacionais, para aquisição dos 67,2% de capital de Isabel dos Santos na empresa e que entraria numa fase de negociações com todos os ‘stakeholders’ relevantes para alteração da estrutura acionista da empresa, o que aparentemente resultou em nada, forçando o governo português a intervir, acabando com as incertezas sobre a continuidade da empresa, a permanência de Isabel dos Santos na estrutura acionista e a garantia de mais de 2.500 empregos.
Isabel dos Santos está a ser investigada pela justiça portuguesa no âmbito do “Luanda Leaks” sob suspeita de branqueamento de capitais. Recentemente, foram apreendidos cerca de 280 milhões de dólares, em dinheiro vivo, que estavam guardados em cofres de vários bancos na cidade do Porto, Portugal.
Em Angola a empresária também é alvo de investigações civis e criminais, sobre ela pesam, entre outras, acusações de desvios de mais de 30 milhões de dólares da Sonangol, ato que é acusada de ter praticado enquanto esteve à frente da gestão da petrolífera nacional. A justiça angolana acusa também Isabel dos Santos de ter causado danos ao Estado angolano na ordem dos 5 mil milhões de dólares. Acusações essas que foram negadas pela empresária, dizendo “não dever nada ao Estado angolano”.