A Administração Norte-Americana para a Alimentação e Medicamentos (FDA) aprovou, esta quarta-feira, o primeiro tratamento preventivo contra o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH-SIDA), uma inovação considerada histórica na luta global contra a doença. O medicamento, denominado Yeztugo (lenacapavir), foi desenvolvido pela farmacêutica norte-americana Gilead Sciences e destina-se a reduzir o risco de infeção pelo VIH em adultos e adolescentes com um peso mínimo de 35 quilos.

O Yeztugo é o primeiro inibidor do capsídeo do VIH autorizado para uso preventivo nos Estados Unidos e apresenta-se sob a forma de uma injeção administrada apenas duas vezes por ano — uma solução que promete ultrapassar as limitações e o estigma associados aos tratamentos orais diários de profilaxia pré-exposição (PrEP).
De acordo com o presidente e director executivo da Gilead Sciences, Daniel O’Day, esta aprovação representa “um momento decisivo na luta de décadas contra o VIH”. Os ensaios clínicos demonstraram uma taxa de eficácia de 99,9%, com praticamente todos os participantes a permanecerem seronegativos após a administração do fármaco.
O médico Carlos del Rio, co-director do Centro Emory para a Investigação da SIDA, nos Estados Unidos, sublinhou que a injeção bianual tem potencial para ultrapassar “largamente” as principais barreiras ao tratamento, como a necessidade de ingestão diária de comprimidos e o estigma associado à doença, factores que muitas vezes levam à descontinuação da terapêutica preventiva.
O custo estimado deste tratamento nos Estados Unidos é de cerca de 28 mil dólares anuais, um valor que poderá descer nos próximos anos, à medida que concorrentes entrem no mercado. A Gilead já anunciou a concessão de licenças gratuitas para seis fabricantes de genéricos destinados a 120 países de baixo e médio rendimento, o que poderá facilitar o acesso em regiões como a África Subsaariana, onde a prevalência do VIH continua elevada. Especialistas afirmam que o custo de produção em larga escala poderá situar-se entre 25 a 40 dólares por paciente ao ano, o que representa uma esperança concreta para a massificação do acesso à profilaxia em países em desenvolvimento.
A decisão da FDA é vista por muitos analistas como um passo significativo para o fim da epidemia do VIH, numa altura em que se estima que cerca de 39 milhões de pessoas vivem com o vírus no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde.
A aplicação do Yeztugo deverá ser feita apenas em pessoas previamente testadas e confirmadas como seronegativas, de modo a evitar o risco de desenvolvimento de resistência ao medicamento, caso exista infeção já estabelecida.
Esta inovação poderá ter impacto importante em países como Angola, onde o reforço das estratégias de prevenção continua a ser uma das prioridades do Plano Nacional de Resposta ao VIH/SIDA. A integração deste tratamento nos programas públicos dependerá, no entanto, da sua aprovação por autoridades locais e de acordos de fornecimento a preços acessíveis.