Presidente angolano destaca justiça na saúde global e reafirma compromisso com cobertura universal e solidariedade africana
Genebra – O Presidente da República de Angola e Presidente em exercício da União Africana, João Lourenço, anunciou esta segunda-feira, 20 de Maio, em Genebra, uma contribuição voluntária de 8 milhões de dólares norte-americanos para o financiamento da Organização Mundial da Saúde (OMS). O anúncio foi feito durante o seu discurso na abertura da 78.ª Assembleia Mundial da Saúde, que reúne cerca de 200 Estados-membros da organização.

No seu pronunciamento, João Lourenço fez um forte apelo à solidariedade internacional e à justiça na administração dos serviços de saúde à escala global, sublinhando que a OMS “deve ser protegida e reforçada”, por constituir um parceiro vital para os países mais vulneráveis, especialmente em tempos de crise.
“Investir na OMS não constitui um acto inútil, mas sim um investimento estratégico no futuro da Humanidade”, afirmou o estadista angolano, reforçando o apelo para que outros países-membros aumentem as suas contribuições fixas.
Além do compromisso financeiro, o Presidente de Angola apresentou uma análise profunda dos desafios enfrentados pelo continente africano, incluindo o declínio do financiamento externo, o aumento da dívida, a fragilidade dos sistemas de saúde e o impacto das alterações climáticas. Segundo o Chefe de Estado, a África está a sofrer uma “reversão alarmante” nos indicadores de saúde, colocando em risco os ganhos conquistados nas últimas duas décadas.
Resultados em Angola e investimentos no sector da saúde
Lourenço aproveitou a tribuna da OMS para apresentar os avanços registados no sector da saúde em Angola nos últimos oito anos. Entre os principais destaques:
- Redução da mortalidade infantil de 44 para 32 por 1.000 nados-vivos;
- Aumento do número de unidades sanitárias de 2.612 para 5.958 entre 2017 e 2024;
- Instalação de mais de 500 monitores de hemodiálise e incremento de mais de 20 mil camas hospitalares;
- Formação prevista de cerca de 38 mil profissionais de saúde até 2028.
“O nosso sistema de saúde é universal e está a ser ampliado em todos os níveis de atenção, com foco especial nos cuidados primários”, sublinhou o Presidente, que defendeu também o investimento em saneamento, educação, alimentação saudável e saúde digital como componentes essenciais para garantir o direito à saúde.
África como parte activa da solução global
Lourenço reafirmou a ambição da União Africana de produzir, até 2035, 55% dos produtos de saúde e 50% das vacinas consumidas no continente, investindo em infraestruturas, inovação, redes de investigação e fabricação local.
“O continente africano deve deixar de ser apenas receptor e tornar-se produtor e parceiro pleno na construção de soluções globais de saúde”, frisou, apelando à adaptação dos modelos de instituições internacionais como o Banco Mundial, GAVI e o Fundo Global para apoiar sistemas liderados por África.
Cimeira sobre a cólera e solidariedade com zonas de conflito
O Presidente de Angola destacou ainda a gravidade dos surtos de cólera que afetam pelo menos 15 países africanos e anunciou o apoio à próxima Cimeira de Alto Nível de Chefes de Estado em Lusaka, dedicada exclusivamente ao combate da epidemia. Defendeu também a criação de uma Iniciativa Conjunta de Saúde e Paz UA-ONU para proteger infraestruturas e trabalhadores de saúde em zonas de conflito.
Mensagem final: solidariedade e compromisso moral
João Lourenço encerrou o seu discurso com um apelo veemente à solidariedade e ao compromisso moral da comunidade internacional, sublinhando que a saúde não pode ser um privilégio de poucos, mas um direito de todos.
“Que esta Assembleia seja lembrada não pela sua retórica, mas pela sua determinação em salvar vidas”, concluiu.