O Presidente da República de Angola e presidente em exercício da União Africana, João Lourenço, defendeu este domingo, 7 de julho, uma profunda reforma das instituições de governação mundial e o fortalecimento do multilateralismo, durante o seu discurso na XVII Cimeira de Chefes de Estado e de Governo dos BRICS, realizada na cidade do Rio de Janeiro, Brasil.

No encontro, que reúne representantes de cerca de 30 países e uma dezena de organizações internacionais, João Lourenço sublinhou que as instituições globais foram criadas num contexto histórico muito diferente, logo após a Segunda Guerra Mundial, e que, face às “profundas mudanças” ocorridas nas últimas oito décadas, “precisam de se ajustar às novas realidades”.
O estadista angolano defendeu que o bloco dos BRICS – formado por países emergentes com crescente influência global – pode ter um papel relevante para “construir um maior equilíbrio na discussão sobre os temas referentes à governação mundial, entre o Sul Global e os países desenvolvidos”.
João Lourenço reiterou a necessidade de “fortalecer o multilateralismo”, alertando que este princípio fundamental das relações internacionais está “cada vez mais ameaçado nos tempos que correm”. Acrescentou que os BRICS têm um papel “decisivo e fundamental” para contribuir para uma ordem económica mundial mais justa, que priorize o comércio equitativo, investimentos sustentáveis e financiamento menos oneroso para os países mais necessitados.
Horas antes, o anfitrião da cimeira, o Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, fez duras críticas ao que classificou como o “colapso sem paralelo do multilateralismo”, com destaque para o Conselho de Segurança das Nações Unidas, que acusou de paralisia e perda de credibilidade. Para Lula, a solução passa por uma reforma urgente que inclua novos membros permanentes da Ásia, África e América Latina, a fim de garantir a própria sobrevivência da ONU.
A XVII Cimeira dos BRICS ocorre num momento marcado pela ausência de dois dos seus principais líderes: o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, que participa por videoconferência devido ao mandado de captura emitido pelo Tribunal Penal Internacional, e o Presidente da China, Xi Jinping, que surpreendentemente não compareceu e será representado pelo primeiro-ministro Li Qiang.
Com mais de 40% da população mundial e mais de 35% do PIB global, o bloco BRICS tem centrado os debates desta edição em quatro temas principais: a reforma da ordem internacional, a promoção do multilateralismo, a luta contra a fome e a pobreza e o desenvolvimento sustentável.
Lusa