Quinta-feira, 26 de Junho, 2025

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Os dilemas de Donald Trump na crise Israel-Irão

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem oscilado entre o apoio incondicional às acções militares de Israel contra o Irão e tentativas de distanciamento dessas operações, alimentando uma atmosfera de incerteza quanto ao rumo da política externa americana no Médio Oriente.

Depois de inicialmente afirmar que os EUA “nada tinham a ver” com os ataques israelitas em Teerão, Trump apelou, nos últimos dias, à retirada da população da capital iraniana, exigiu a “rendição incondicional” do regime e afirmou que Washington conhece a localização exacta do líder supremo do Irão, aiatolá Ali Khamenei, mas que “não o eliminaria — por enquanto”.

A imprevisibilidade do presidente norte-americano foi novamente exposta quando abandonou antecipadamente a cimeira do G7 no Canadá, justificando a decisão com “assuntos importantes” em Washington, segundo a Casa Branca, relacionados com o Médio Oriente. No entanto, mais tarde, na sua rede Truth Social, Trump garantiu que “nada tem a ver com qualquer cessar-fogo”.

Entretanto, Benjamin Netanyahu declarou que os bombardeamentos sobre o Irão foram “totalmente coordenados” com Washington, contrariando as tentativas de distanciamento da administração Trump.

Perante este cenário, que opções tem Donald Trump em mãos?

1. Ceder à pressão de Netanyahu e intensificar a escalada

Trump sempre insistiu que o Irão não pode obter armas nucleares, objectivo partilhado com Netanyahu. Apesar de declarar preferência por uma solução negociada, o presidente norte-americano tem deixado espaço para a opção militar. Conselheiros seus adeptos da chamada “teoria do louco” — segundo a qual a imprevisibilidade serve para intimidar adversários — defendem a via da pressão máxima, apostando que o Irão acabará por ceder.

A pressão também cresce no Congresso, sobretudo entre os republicanos mais belicistas, que há anos advogam uma mudança de regime em Teerão. Israel, por seu lado, insiste para que Washington participe mais activamente, oferecendo as suas bombas anti-bunker que poderiam atingir a instalação nuclear de Fordow.

No entanto, esta estratégia implica riscos severos de uma guerra aberta no Médio Oriente.

2. Manter o meio termo — ajudar Israel na defesa, sem ofensiva directa

Trump reiterou que os EUA não participaram nos ataques, mas é um facto que navios de guerra e baterias antimísseis americanas protegem Israel dos mísseis iranianos. Alguns conselheiros na Casa Branca alertam contra uma escalada que possa colocar forças americanas em risco directo.

Apesar da insistência de Netanyahu em eliminar o aiatolá Khamenei, fontes anónimas do governo revelaram que Trump se opõe a tal acção, temendo o alastramento do conflito.

Esta posição de “apoio defensivo” permitiria a Trump evitar um envolvimento directo, preservando o seu discurso de não intervenção.

3. Ouvir as vozes do movimento Maga e recuar

No seio do movimento Make America Great Again (Maga), surgem críticas duras à possibilidade de envolvimento militar dos EUA em mais uma guerra no Médio Oriente. Figuras como Tucker Carlson e Marjorie Taylor Greene rejeitam o apoio incondicional a Israel, alertando para uma traição do princípio “America First”.

Estes sectores consideram que os EUA estão a ser usados por Israel e que um eventual envolvimento militar seria um desastre político para Trump junto da sua base eleitoral.

Talvez por isso, no fim-de-semana, Trump tenha ecoado o apelo de Putin por um cessar-fogo, afirmando que Washington “não teve nada a ver com o ataque ao Irão” e sugerindo que Teerão e Telavive deveriam negociar a paz.

Além disso, Teerão ameaçou atacar bases americanas na região caso Washington se envolva ainda mais no conflito, o que poderá reforçar o argumento isolacionista entre os apoiantes de Trump.

Donald Trump encontra-se numa encruzilhada. Entre agradar a Israel e aos republicanos belicistas, manter uma posição ambígua de apoio limitado ou ceder à ala isolacionista do Maga, cada opção tem custos e riscos — para o seu legado, para a estabilidade regional e para a sua campanha eleitoral de 2024.

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