O Banco Mundial (BM) anunciou esta quarta-feira (11) que voltará a apoiar projectos de produção de energia nuclear, quebrando um jejum de décadas sem financiamento deste tipo de tecnologia. A decisão visa responder à crescente procura de electricidade nos países em desenvolvimento, numa altura em que se debate o futuro da transição energética global.

A mudança de política foi comunicada pelo presidente da instituição, Ajay Banga, através de uma mensagem enviada aos funcionários, à qual a agência AFP teve acesso. No documento, Banga revela que o Banco Mundial irá colaborar com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) para assegurar o cumprimento rigoroso das garantias de não proliferação nuclear.
O Banco Mundial estima que a procura de electricidade nos países em desenvolvimento poderá multiplicar-se até 2035. Para fazer face a este aumento, o investimento anual em geração de energia, redes eléctricas e armazenamento deverá quase triplicar, passando dos actuais 280 mil milhões de dólares para cerca de 630 mil milhões de dólares.
Entre as acções previstas, o Banco compromete-se a apoiar a extensão da vida útil de reatores nucleares existentes nos países que já possuem esta tecnologia, bem como a melhorar as redes eléctricas e infraestruturas associadas. Outra aposta será a promoção do potencial dos pequenos reatores modulares, uma tecnologia emergente que poderá tornar a energia nuclear mais acessível e segura para um maior número de países.
A decisão surge após pressões de accionistas importantes, como os Estados Unidos — o maior investidor do Banco Mundial —, para que a instituição reavaliasse a sua tradicional recusa em financiar energia nuclear. Na reunião do conselho de administração, realizada esta semana, foi aprovado o novo enquadramento, embora sem consenso ainda sobre o eventual financiamento de projectos de produção de gás natural.
O presidente Ajay Banga, no cargo desde 2023, tem impulsionado uma mudança estratégica na política energética do banco, afirmando que o objectivo é “ajudar os países a fornecer a energia de que as suas populações necessitam, oferecendo flexibilidade para que cada um possa escolher o caminho que melhor se adapte às suas ambições de desenvolvimento”.
Apesar da abertura à energia nuclear, o Banco Mundial manterá o seu apoio ao encerramento ou reconversão de centrais a carvão, numa tentativa de conciliar segurança energética com os objectivos climáticos globais.
A decisão ocorre num momento de debate intenso sobre o papel das diferentes fontes de energia na luta contra as alterações climáticas. Em Abril, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, defendeu que o BM deveria dar prioridade a “tecnologias fiáveis” em vez de “objectivos climáticos distorcidos”, sugerindo que o apoio ao gás natural poderá ser inevitável em determinados contextos.
Por enquanto, o Banco Mundial mantém em aberto a discussão sobre o financiamento de projectos de gás, aguardando um consenso entre os seus principais accionistas.