O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, despediu-se hoje do parlamento britânico com a frase cinematográfica “hasta la vista, baby”, durante o seu último debate na Câmara dos Comuns no qual reivindicou uma “missão largamente cumprida”.
“Os últimos anos têm sido o maior privilégio da minha vida. É verdade que ajudei a obter a maior maioria ‘tory’ [conservadora] em 40 anos e um enorme realinhamento na política do Reino Unido. Transformamos a nossa democracia e restaurámos a nossa independência nacional”, reivindicou o político que deixará o cargo de primeiro-ministro em setembro.
Johnson afirmou também que ajudou o país a “ultrapassar uma pandemia e a salvar outro país da barbárie”, numa referência à Ucrânia.
“Francamente, isso é o suficiente para já. Missão largamente cumprida, por agora”, declarou, concluindo a sua intervenção com a frase “hasta la vista, baby”, que se tornou icónica após ter sido utilizada por Arnold Schwarzenegger no filme “Exterminador Implacável 2: O Dia do Julgamento” (1991).
À saída, Johnson foi ovacionado de pé pela bancada do partido Conservador mas, ao contrário de outros antigos primeiros-ministros conservadores como foi o caso de David Cameron, não foi aplaudido pela oposição.
O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, começou por desejar “boa sorte para o futuro” a Boris Johnson e família, reconhecendo que a relação entre a principal força da oposição e o chefe do governo “nunca é fácil”.
Mas não poupou o rival na despedida, lembrando que nenhum dos candidatos à sucessão disse “uma única coisa decente” sobre o atual líder conservador e que todos apontaram críticas ao executivo durante os debates televisivos.
Keir Starmer referia-se à ministra dos Negócios Estrangeiros, Liz Truss, que reconheceu a necessidade de mudar a atual política económica britânica, à secretária de Estado do Comércio, Penny Mordaunt, que lamentou o facto de o Governo não ter “feito o suficiente”, e ao antigo ministro das Finanças, Rishi Sunak, que assumiu que os eleitores não têm confiança no executivo.
Os três políticos disputam hoje a sexta e final volta da eleição para a liderança do Partido Conservador. A ronda de hoje pretende reduzir a corrida a apenas dois candidatos, que irão enfrentar uma última votação dos militantes de base do partido em todo o país durante o mês de agosto.
O vencedor deverá ser anunciado a 05 de setembro, tornando-se automaticamente primeiro-ministro, sem necessidade de uma eleição nacional.
“Penso que a mensagem que sai desta eleição de liderança é bastante clara. Eles meteram-nos nesta confusão e não fazem ideia de como nos livrar dela”, criticou Starmer.
O líder do Partido Nacional Escocês (SNP), Ian Blackford, agradeceu “pessoalmente” ao primeiro-ministro por ter aumentado o apoio à independência, embora as sondagens mostrem que os escoceses continuam divididos sobre a questão.
“O ‘Brexit’ dos ‘tories’ cortou 31.000 milhões de libras [36.000 milhões de euros] na economia, a maior queda no nível de vida desde os anos 1970. O salário das pessoas, em termos reais, caiu ao ritmo mais rápido na história. O pior crescimento económico previsto no G20 fora da Rússia e a maior inflação dos últimos 40 anos”, acusou.
O líder dos Liberais Democratas, Ed Davey, defendeu umas eleições legislativas para legitimar um novo primeiro-ministro, para o qual Boris Johnson deixou alguns conselhos “seja ele qual for”.
“Número um, fique perto dos americanos e defenda os ucranianos, defenda a liberdade e a democracia em todo o lado”, começou Boris Johnson, acrescentando que deve também “cortar impostos e desregulamentar onde quer que se possa para fazer deste [país] o melhor lugar para se viver e investir”.
Numa crítica velada a Rishi Sunak, Johnson disse que “adora” o Ministério das Finanças, mas defendeu o investimento em infraestruturas para estimular a economia, lembrando que se tivessem ouvido sempre os avisos sobre o aumento da despesa pública “não teríamos construído a [autoestrada] M25 ou o Túnel do Canal”.
“Concentre-se no caminho que se avizinha. Mas lembre-se sempre de olhar para o espelho retrovisor. E lembre-se, acima de tudo, não é o Twitter que conta, são as pessoas que nos enviaram para cá”, vincou.
A eleição no seio dos Conservadores britânicos foi desencadeada quando Johnson se demitiu do cargo de líder conservador há duas semanas, após a demissão em massa de membros do Governo por causa de meses de escândalos éticos.
Boris Johnson irá permanecer no cargo até que o substituto seja escolhido.
Lusa