As associações de taxistas angolanos reafirmam a greve, que hoje arrancou, com destaque para a província de Luanda, e demarcam-se dos atos de vandalização e arruaça registados no município do Benfica.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Associação Nova Aliança dos Taxistas de Angola (ANATA), Francisco Paciente, lamentou a ausência de diálogo com as autoridades.
“Infelizmente, as autoridades continuam a mentir à opinião pública, em dizer que estavam reunidos no período da manhã com as associações, isto não é verdade, e esta greve só se materializou por este facto, das autoridades serem reativas ao invés de proativas”, disse.
Em declarações à Radio Nacional de Angola, o diretor provincial de tráfego e mobilidade de Luanda, Filipe Kumandal, afirmou que algumas associações de taxistas “se têm furtado ao diálogo”, sugerindo que “só pode haver alguma coisa por trás disto”, uma vez que a primeira parte das reivindicações – regresso à lotação máxima – foi atendida e as restantes “estão em tratamento”.
No entanto, segundo Francisco Paciente, “não houve nenhum contacto das autoridades com as três organizações que convocaram a paralisação”.
“As autoridades estão a forjar indivíduos para se fazer passar por associações, quando elas sabem quem são os verdadeiros responsáveis e promotores. Até tem um comunicado que circula nas redes sociais e os órgãos de imprensa públicos, a TPA [Televisão Pública de Angola], TV Zimbo, em momento algum contactaram um dos organizadores”, referiu.
Francisco Paciente disse que, no lugar dos responsáveis das associações, os órgãos de imprensa pública estão a contactar “pequenos empresários do setor dos transportes privados, para se fazer passar como líder das associações, a desconvocar a paralisação e deu no que deu porque os taxistas ficaram mais furiosos ainda”.
“Porque viram a televisão pública a passar imagem de indivíduos estranhos a falarem em nome dos taxistas. Agora ouvi num órgão de comunicação social, a Polícia Nacional a dizer que estão a conversar com as associações no Benfica, mas todos os líderes das associações que convocaram [a greve] não receberam nenhuma comunicação, absolutamente nenhuma para o diálogo”, frisou.
O líder associativista denunciou que “estão a forjar indivíduos, que estão a agitar as pessoas para fazerem barricadas”.
“Essas pessoas não identificadas, supostamente forjadas pelos serviços secretos ou não sei, para tentarem manchar o nome das associações, por isso é que o Governo até agora não dialoga, o Governo quer criar condições para manchar as associações, ao invés de resolver, de se sentar, quer vingar-se, criar condições de queima de viaturas, conforme estão a fazer no Benfica, de agressão, de vandalismo”, acusou.
O presidente da ANATA destacou que as reivindicações não se prendem apenas com a redução da lotação dos taxistas, impostas pelo decreto presidencial do estado de calamidade, devido à covid-19, mas estão em causa também “reivindicações antigas” que foram suspensas em março do ano passado, quando anunciaram uma paralisação dos serviços, e que não foram respondidas pelo Governo até à presente data.
“Foram feitas várias promessas e das promessas feitas absolutamente nenhuma” foi cumprida, disse, com exceção da reparação de um troço de uma estrada nos Congoleses.
Quanto à inclusão dos taxistas na segurança social, ao acesso à carteira profissional, exclusão em algumas artérias da província de Luanda, continuam por resolver e, “pelo contrário, o abuso da autoridade dos agentes na rua piorou, ou seja, degradou-se a relação taxistas e polícia”, indicou.
O levantamento da restrição da lotação, que determinava a ocupação de 30% da sua capacidade, foi feita apenas de “forma verbal” pelo Governo, disse.
Depois dessa resposta verbal, prosseguiu o líder da ANATA, “o Governo foi usando pessoas estranhas para passar na comunicação pública, sem o contraditório daqueles que convocaram a paralisação, para fazer crer às pessoas e à opinião pública que não haveria paralisação”.
“As pessoas hoje foram à rua convencidas que não haveria paralisação, porque a comunicação pública mentiu e estão a verificar que os taxistas todos estão paralisados”, realçou.
Francisco Paciente reafirmou disponibilidade para o diálogo, reforçando que “os atos praticados pela administração pública devem ser feitos por ata, por memorando”.
A paralisação foi convocada pela ANATA e pela Associação dos Taxistas de Angola e Associação dos Taxistas de Luanda.
Os taxistas queixam-se do excesso de zelo dos agentes policiais de que são alvo e do mau estado das estradas e exigem profissionalização da atividade e formalização do anúncio do regresso à lotação a 100% dos transportes coletivos, feito na sexta-feira passada pelo ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, Francisco Furtado.
Lusa