O ex-presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF), o senegalês Lamine Diack, assumiu hoje em tribunal ter decidido suspender processos disciplinares por doping contra a atletas russos para “salvar a saúde financeira” do organismo que liderou.
Lamine Diack, que está a ser julgado por corrupção em Paris, admitiu que a revelação de tantos casos de doping causaria um escândalo e pesaria nas negociações com os patrocinadores.
“A saúde financeira [da IAAF] tinha que ser protegida e eu estava pronto a fazer esse compromisso”, disse o senegalês, de 87 anos, que presidiu à IAAF (atual World Athletics) entre 1999 e 2015.
Diack, o principal arguido no processo que envolve acusações de corrupção, abuso de poder, lavagem de dinheiro e associação criminosa, negou qualquer relação entre a “gestão” dos casos de doping russos e um financiamento de 1,5 milhões de dólares (cerca de 1,3 milhões de euros) para as eleições de 2012.
Durante a fase de investigação, Diack já tinha admitido que as sanções à Rússia foram “geridas” para não manchar a imagem do país antes do Mundiais de 2013, disputados em Moscovo, numa altura em que a IAAF negociava contratos de patrocínios e transmissões televisivas.
O adiamento de algumas sanções permitiu que alguns atletas participassem nos Jogos Olímpicos Londres2012 e conquistassem várias medalhas.
Na segunda-feira, o ex-diretor do gabinete antidopagem IAAF, o francês Gabriel Dollé, admitiu em tribunal “arranjos” às regras de doping com a necessidade de “evitar escândalos” para salvar patrocínios.
No final de 2011 e início de 2012, quando o passaporte biológico, uma nova ferramenta no arsenal das armas antidoping, começou a surtir efeito, aumentaram as suspeitas sobre a Rússia e foi elaborada uma lista de 23 atletas suspeitos.
Dollé disse que Lamine Diack pediu para considerar a “situação financeira muito crítica” da IAAF e que, naquele momento, a lista causaria um “escândalo”, que influenciaria o curso das negociações com os patrocinadores e causaria o colapso do organismo.
Para “evitar o escândalo”, a Dollé terá sido pedido uma “gestão fundamentada”, que implicava não sancionar oficialmente e publicamente os atletas, mas sim com uma “suspensão não oficial” e “discreta”, que, no fundo, era contrária à regulamentação.