Sábado, 9 de Novembro, 2024

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Costa do Marfim busca soberania alimentar com cultivos próprios como a mandioca

A crise de abastecimento de cereais, provocada pela guerra na Ucrânia, evidenciou a necessidade de que a “África alimente a África” com produtos como a mandioca e o milho, disse à AFP o ministro marfinense da Agricultura, Kouassi Adjoumani, no Salão Agrícola de Paris.

PERGUNTA: Como a Costa do Marfim reduzirá sua dependência das importações de alimentos?

RESPOSTA: A crise na Ucrânia não provocou apenas danos, também deu ideias para que possamos produzir nossa própria soberania alimentar.

Temos tido dificuldades no fornecimento de insumos de primeira necessidade, de trigo [importado principalmente de Rússia e Ucrânia]. Decidimos, consequentemente, afirmar que no lugar podemos produzir mandioca, e de sua farinha pode-se fazer pão.

Nossa economia de base é a nossa agricultura, que representa 22% do PIB nacional. Produzimos café, cacau, hévea (seringueira), que são cultivos rentáveis. Mas, hoje em dia pensamos em uma diversificação agrícola.

Estamos entre os primeiros produtores de cacau, caju, noz-de-cola, mas não são produtos que nós consumimos, e por isso nossa política desenvolve a produção de alimentos, verduras e hortaliças.

Queremos nos concentrar em uma produção local de inhame, mandioca e milho.

Com nosso programa de reativação agrícola, começamos a restaurar os instrumentos produtivos destruídos pela crise. Mas dissemos a nós mesmos que seria preciso ir mais longe, melhorar a conservação e a transformação dos alimentos. Grande parte da nossa produção não chega ao mercado, devido às perdas posteriores à colheita, pela falta de centros de armazenamento e de usinas de transformação.

PERGUNTA: Como melhorar a transformação, sobretudo do cacau?

RESPOSTA: A Costa do Marfim representa 40% da produção mundial [de cacau]. Com Gana [20%], decidimos falar em uníssono: para que os produtores sejam mais bem remunerados, devemos transformar localmente os nossos produtos.

Quando realizada na Costa do Marfim, onde oito milhões de pessoas vivem do cultivo do cacau, a transformação em manteiga ou em pó aporta uma mais-valia aos produtores: a remuneração chega de 25.000 a 30.000 francos CFA por quilo de cacau transformado (de 40 a 48 USD), frente aos 900 francos CFA por quilo bruto.

Dizemos, então, às multinacionais que invistam na Costa do Marfim, que construam fábricas para transformar as favas de cacau em chocolate, o que também reduzirá o custo de transporte para a Europa. E que se os produtores forem pagos de forma regular, as pessoas não vão desmatar.

PERGUNTA: De que forma os países trabalham em conjunto para garantir a produção de alimentos no continente?

RESPOSTA: A África deve alimentar a África e, para isso, programas devem ser elaborados. Alguns países têm dificuldades de produção, por incidentes climáticos ou falta de chuva. Na Costa do Marfim, podemos produzir mais e enviar o excedente aos países fronteiriços.

Decidimos trabalhar juntos e o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) anunciou um financiamento de 10 bilhões de dólares [aproximadamente para que a África se torne o principal fornecedor de seus próprios alimentos]. Na Costa do Marfim, estes recursos não vão servir para financiar produtos rentáveis, mas cultivos de alimentos e de verduras e hortaliças.

AFP

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