O Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, criticou hoje novamente o sistema eletrónico de votação e os juízes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) num evento com empresários em São Paulo, afirmando que as eleições são “tema de segurança nacional”.
O Presidente brasileiro falou sobre as ações de seu Governo, mas no meio do discurso voltou a atacar o sistema eleitoral do país, insinuando que não se pode criticar decisões judiciais que considera parciais e contra a tentativa de sua reeleição no Brasil.
“Sabemos que alguns aqui podem muito, mas ninguém pode tudo. Porque quem duvidar do sistema eleitoral eletrónico vai ter o diploma [confirmação da eleição] cassado e preso? Eu sou obrigado a confiar? Eu posso apresentar falhas? Posso dizer como foi a eleição em 2014 que no meu entendimento técnico o Aécio [Neves, candidato derrotado pela ex-presidente Dilma Rousseff] ganhou?”, questionou Bolsonaro.
“Eu, técnico, com a documentação que tenho do próprio TSE, não posso falar que ganhei na primeira volta [das presidenciais]. Não posso falar isto? Vão caçar meu registo? Aqui não tem ninguém mais homem que o outro no Brasil. Somos cidadãos, queremos a paz e a tranquilidade”, acrescentou, reforçando perguntas que faz de forma recorrente, mas sobre as quais nunca apresentou provas, sobre uma alegada vitória sua na primeira volta das presidenciais em 2018.
O Presidente brasileiro também frisou que “eleições são questões de segurança nacional”, e sugeriu que o Poder Judiciário conspira contra si ao acusar o juiz Edson Fachin, presidente do TSE e que também ocupa uma cadeira de juiz no Supremo Tribunal Federal (STF), de ter libertado o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva por interesses políticos.
“É justo, meus senhores, o ministro [juiz Edson] Fachin, o que tirou o Lula da cadeia, estar à frente do processo eleitoral? É justo ele se reunir há dez dias com 70 embaixadores, temos uns 15 aqui. É justo Fachin se reunir com 70 embaixadores e falar de forma indireta que estou solapando a democracia no Brasil?”, questionou o chefe de Estado brasileiro.
Mostrando nervosismo, Bolsonaro também defendeu normas que flexibilizaram a posse de armas promovidas pelo seu Governo, e uma tese jurídica chamada “marco temporal” sobre a demarcação de territórios reivindicados pelos povos indígenas e que está a ser analisada pelo STF – defendida por fazendeiros para evitar novas demarcações – que segundo disse se não for confirmada poderá “acabar com o agronegócio” do país.
O chefe de Estado brasileiro voltou a insinuar que poderá não cumprir decisões judiciais se discordar delas.
“O que resta para mim, com o Supremo [Tribunal Federal] decidindo isto? Eu pedir uma audiência com o juiz [Luís] Fux [presidente do STF] e dizer to [pegue] a chave aqui para vossa excelência, administre o Brasil ou falar, não vou cumprir. Isto é pesado? Não, isto é real. Chega de bananas na política brasileira”, disparou Bolsonaro.
No final das suas declarações, Bolsonaro também fez uma lista de acusações contra seu principal rival nas eleições de 2022, o ex-presidente Lula da Silva, alegando que pretende mudar a legislação, tomar iniciativas para prejudicar os empresários como, por exemplo, “relativizar a propriedade privada”.
Jair Bolsonaro voltou a dizer que atualmente o Brasil tem um Governo que acredita em Deus, que respeita as suas Forças Armadas, os polícias e a família.
Voltando a atacar adversário que não nomeia, o chefe de Estado também falou sobre uma alegada interferência na eleição que venceu em 2018.
“Quais interferências fizeram no decreto de dezembro de 2018 que começou a apurar o que seria a fraude nas eleições daquele ano, que não fechou ainda este inquérito?. Essas verdades, essas questões políticas têm de estar ao lado da questão económica senão vocês não tem tranquilidade”, concluiu o Presidente brasileiro para a plateia de empresários.
Lusa