Sexta-feira, 10 de Outubro, 2025

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EUA apelam aos militares para não reprimirem violentamente protestos no sábado

Os Estados Unidos da América (EUA) apelaram hoje aos militares do Sudão para não reprimirem violentamente os protestos planeados para sábado no país contra o golpe militar.

“Estamos realmente preocupados com o amanhã [sábado]”, disse um alto responsável norte-americano. “Será um verdadeiro teste às intenções dos militares”, acrescentou.

“O povo sudanês prepara-se para ir para as ruas amanhã [sábado] para protestar contra a tomada do poder pelos militares, e apelamos às forças de segurança para não usarem a violência contra os manifestantes e respeitarem plenamente o direito dos seus concidadãos a manifestarem-se pacificamente”, afirmou a fonte oficial.

Segundo a mesma fonte, “20 a 30 pessoas” foram mortas na sequência da repressão pelo Exército desde o golpe de Estado de segunda-feira, que derrubou o governo.

Fontes médicas disseram que pelo menos oito manifestantes foram mortos e mais de 170 ficaram feridos na sequência da violência usada pelas forças de segurança para reprimir os manifestantes, mas sublinharam que o balanço poderia ser mais elevado.

Embora as autoridades tenham cortado a Internet, os manifestantes estão a organizar-se para se reunirem em Cartum e outras cidades do Sudão.

Apesar de os sindicatos e outras associações terem sido dissolvidos, os ativistas continuam a mobilizar-se para a “desobediência civil” e “greve geral”, que já transformaram a capital sudanesa numa cidade morta durante cinco dias.

No sábado, os opositores ao golpe prometem “um milhão” sudaneses nas ruas, apesar do bloqueio da Internet que perturbou a organização do protesto.

“O que é que o Exército vai fazer em resposta a isto, vai tentar impedir a manifestação, reprimir antes mesmo de ela acontecer? Irão fechar estradas, pontes? Se os manifestantes avançarem de qualquer forma, será que o Exército impedirá a realização de manifestações pacíficas?”, questionou o alto responsável norte-americano. “Amanhã vai ser um verdadeiro teste”, reiterou, segundo a agência France-Presse.

Desde segunda-feira, quando o líder militar sudanês Abdel- Fatah al-Burhan desencadeou um golpe de Estado, na sequência do qual foi preso o primeiro-ministro, Abdullah Hamdok, que grupos da oposição têm vindo a lutar contra as forças de segurança para devolver o país a um governo civil, que foi dissolvido.

Islam Omar, um oficial governamental de 35 anos, disse à agência de notícias espanhola Efe que participará nas manifestações de amanhã “para condenar o golpe”, pois, acrescentou: “Desviou os meus sonhos e suspendeu a transição democrática e o governo civil”.

Diferentes grupos da oposição têm vindo a apelar desde o dia 25 para os “filhos da revolução”, referindo-se aos movimentos populares que derrubaram o ditador Omar al-Bashir, que manteve o poder durante três décadas no país até abril de 2019, para saírem às ruas e se manifestarem, mas o apelo de amanhã pode ser diferente.

“Os protestos de amanhã não irão derrubar as autoridades militares, mas mostrarão à comunidade internacional a rejeição popular das medidas tomadas por Al-Bashir”, disse Omar, acrescentando que “a juventude continuará na resistência que será pacífica, mesmo que dure 10 anos”.

Por outro lado, Ibrahim Mustafa, um estudante universitário de 22 anos, disse à Efe que a sua intenção é “mobilizar toda a rua” contra as decisões tomadas por Al-Burhan.

“Conseguimos a nossa liberdade após 30 anos de Al-Bashir e não vamos desistir da nossa liberdade agora”, frisou.

Al-Burhan dissolveu, na segunda-feira, os órgãos criados para o período de transição que teve início após o derrube de Al-Bashir e declarou o estado de emergência em todo o país, mas um dia mais tarde prometeu reintegrá-los.

O golpe ocorreu na sequência de críticas cruzadas entre os militares e os partidos políticos, cuja coexistência no processo de transição foi tensa desde o início, e aumentou a tensão após uma alegada tentativa de golpe há um mês, que o governo atribuiu a “restos” do regime de Al-Bashir “dentro e fora das forças armadas”, algo que enfureceu os militares.

O Sudão assistiu a dias sangrentos de protestos contra o regime de Al-Bashir nos últimos anos, incluindo em 03 de junho de 2019, quando as forças de segurança dispersaram brutalmente uma concentração em massa em Cartum com armas de fogo e gás lacrimogéneo, matando mais de 100 pessoas e ferindo pelo menos 700, de acordo com a organização Amnistia Internacional.

Numa possível reviravolta face aos acontecimentos da semana passada no país africano, Al-Burhan está a considerar o regresso de Hamdok como primeiro-ministro, apesar deste ter sido deposto, disse hoje uma fonte do gabinete militar à Efe, solicitando o anonimato.

Lusa

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