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Caso real de disputa pela invenção do Google Earth gera série eletrizante

A história é sensacional e tem lances que impressionam – pela genialidade e ingenuidade dos principais envolvidos. Baseada em fatos, a minissérie alemã “Batalha bilionária: O caso Google Earth”, lançada há pouco pela Netflix, é basicamente uma briga de Davi e Golias. 
Pode ser vista também como uma espécie de “A rede social” (o filme de 2010 sobre a criação do Facebook) às avessas. Aqui, o que está em jogo não é a trajetória dos vencedores no universo da tecnologia, e sim a dos vencidos.

Em 1994, na Alemanha em início de reunificação, dois jovens – um estudante de artes alemão e um hacker húngaro – criaram em Berlim o Terravision. O sistema é uma representação virtual da Terra em rede com base em imagens de satélite, fotos aéreas, dados de altitude etc. 
No Terravision, os usuários podem navegar pelo globo do macro ao micro: superfície terrestre, continentes, países, cidades e prédios. Mas não é isso que, grosso modo, o Google Earth faz?

DISPUTA

Pois bem, o sistema americano teve sua primeira versão em 2001 e, em 2005, ganhou o mundo, quando foi adquirido pelo Google. E foi aí que os dois jovens descobriram que sua invenção havia sido “roubada” do outro lado do Atlântico. Em 2014, entraram com uma disputa judicial por quebra de patente contra a megacorporação.


A narrativa intercala dois momentos temporais. O início dos anos 1990, quando os dois jovens começam a trabalhar juntos, e a briga nos tribunais, na década passada. A produção toma várias liberdades diante dos fatos. Os nomes dos personagens, por exemplo. 
Na ficção, a dupla é Carsten Schlüter, o artista (vivido por Leonard Scheicher na juventude e Mark Waschke, que participou de “Dark”, na idade adulta) e Juri Müller, o programador (Marius Ahrendt e Misel Maticevic, respectivamente).

Carsten, em 1993, era um estudante de arte que se interessava por arte digital. Exibia suas criações em clubes de Berlim. Numa noite, o recluso programador Juri vê um trabalho dele, grande na ideia, mas com problemas técnicos. 

Os dois se aproximam e Juri diz que poderia resolver as questões de programação que atrapalhavam as obras. A dupla se une e Carsten tem a ideia, ainda como um projeto de arte digital, do que seria a gênese do Terravision. Precisavam de dinheiro e de um supercomputador que permitisse operações impensáveis na época. 

FINANCIAMENTO

Conseguem, contra todas as possibilidades, o financiamento da Deutsche Telekom, prometendo que dali a um ano o software estaria pronto para ser exibido em uma conferência mundial, em Kyoto. Bem, as agruras sofridas pela dupla – outros jovens entram no projeto – dão lugar ao êxito, quando o Terravision se torna a sensação do evento no Japão. O reconhecimento, que lhes valeu reportagens internacionais, levou-os para o Vale do Silício. 

É ali, no paraíso da tecnologia, que os dois conhecem seu maior ídolo, Brian Anderson (Lukas Loughran), um gênio visto como deus pelos nerds, que logo se interessa pelo algoritmo do Terravision. Tal personagem é ficcional, e representa Brian McClendon e Michael T. Jones, os fundadores da Keyhole, que desenvolveu o navegador planetário posteriormente vendido para o Google.

CORPORAÇÕES

A narrativa é romanceada, colocando os dois jovens como idealistas que queriam mudar o mundo com a tecnologia. No momento em que o mundo está apenas despertando para a internet, eles aprenderam da pior maneira que, apesar de serem empresas coloridas, sem hierarquia, povoadas de jovens e de máquinas de espresso, as corporações sabem, sim, como puxar o tapete de gente despreparada para o jogo capitalista.

Entremeando os flashbacks, acompanhamos os dois, que há muitos anos não se falavam mais, se preparando com uma dupla de advogados para o processo – o último episódio mostra o embate nos tribunais. As cenas são duras e de alta tensão.

Assim que terminar a minissérie, assista ao making of disponibilizado na plataforma. O programa, com meia hora, traz depoimentos de atores e vários personagens reais da história, inclusive a dupla Pavel Mayer (o programador) e Joachim Sauter (o artista). Este último morreu em julho passado, aos 62 anos.

AFP

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