O Fundo Monetário Internacional (FMI) avisou hoje que a falta de iniciativas contra a redução da emissão de gases de efeito de estufa terá “potenciais implicações catastróficas” no mundo, com consequências “dramáticas” para a África subsaariana.
“Sem ações deliberadas para reduzir a emissão de gases de efeito de estufa, o planeta vai atingir temperaturas que não são vistas há milhões de anos, com implicações potencialmente catastróficas”, lê-se no relatório sobre as Perspetivas Económicas de África, hoje divulgado em Washington.
Citando um estudo que sugere que o ritmo do aquecimento global está a avançar mais rápido que o previsto, o FMI diz que o objetivo de abrandar o crescimento para 1,5 ou 2 graus Celsius “pode ser inalcançável”, apontando que isso tem “implicações dramáticas para a África subsaariana”.
No documento, centrado na questão das vacinas e com uma extensa parte sobre as alterações climáticas e a necessidade de o continente se adaptar a este processo, o FMI lembra que “apesar de a região ser o menor contribuidor para a emissão de dióxido de carbono, com menos de 3% do total, é talvez a região mais vulneráveis a choques relacionados com o clima”.
Os eventos climáticos extremos, como a seca ou as fortes chuvas, afetam a região, que registou “um crescimento mais rápido das temperaturas em comparação com a média global, o mesmo acontecendo com a subida do nível do mar”.
O Fundo estima que uma única seca pode baixar o crescimento de um país africano a médio prazo em um ponto percentual, o que é oito vezes mais do que o impacto noutras regiões emergentes, e afirma que uma subida de 0,5 graus nas temperaturas num só mês pode reduzir a atividade económica em 1%, o que é quase 60% mais do que noutros mercados emergentes e economias em desenvolvimento.
O relatório salienta que o estudo feito pelo Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas projeta um aumento da frequência e da intensidade das chuvas em quase todo o continente, uma subida das temperaturas extremas e um aumento do nível do mar, causando erosões e inundações nas zonas marítimas, nomeadamente no sudeste do continente, onde está Moçambique.
Além disso, “as alterações climáticas podem agir como um multiplicado de conflitos e fragilidades, piorando as tensões preexistentes, a fraca governação e outras preocupações socioeconómicas”, alerta o FMI.
No relatório, o Fundo considera que “a transição energética significa que os países na região vão ter de adotar um novo modelo de crescimento, diferente do caminho feito pelas economias avançadas”, preconizando uma passagem dos combustíveis fósseis para uma industrialização baixa em carbono.
“Os decisores políticos na África subsaariana vão ter de lidar com a adaptação às mudanças climáticas através de um conjunto de medidas de adaptação e mitigação”, lê-se no documento, que acrescenta que estas medidas políticas terão de ser abrangentes.
“Infelizmente, a adaptação é cara, as estimativas do FMI sugerem que entre 30 a 50 mil milhões de dólares vão ser necessários todos os anos, o equivalente a 2 a 3% do PIB regional”, dizem os técnicos do Fundo, que admitem que “devido ao limitado espaço orçamental, que será ainda mais esticado enquanto durar a pandemia, poucos países vão ser capazes de suportar os custos”.
No entanto, alertam, “por muito grandes que os custos sejam, são significativamente mais baixos que o custo de não fazer nada, porque sem esta despesa, a África subsaariana pode ver-se numa situação de ter de responder a uma série crescente de emergências humanitárias relacionadas com o clima, afastando o foco das autoridades do desenvolvimento a longo prazo, e limitando a capacidade da região se integrar com a economia global”.