Funcionários da União dos Escritores angolanos (UEA) prometem paralisar os trabalhos para “exigirem” o pagamento de 20 meses de salários em atraso, a direção “solidariza-se” e “culpabiliza o Ministério das Finanças” pela situação, noticiou hoje a imprensa angolana.
Em declarações à emissora católica angolana, o porta-voz do coletivo dos trabalhadores da UEA, em Luanda, Raimundo de Carvalho, lamenta o atraso salarial de um ano e oito meses e pede uma “resolução urgente” da situação.
Este funcionário diz “não haver qualquer explicação” da entidade empregadora sobre o assunto e afirma que estão a enfrentar dificuldades para sustentar as suas famílias, admitindo a paralisação dos trabalhos: “Estamos no limite”, disse.
Mariquinha Cosme, do grupo dos mais de 20 funcionários nesta condição, diz-se “cansada com a situação”, que se arrasta há quase dois anos, referindo que está a vender o pouco dos utensílios domésticos que lhe restam “para sobreviver”.
“Um ano e oito meses sem salários é muito, por favor queremos ajuda porque estamos cansadas, os filhos doentes, um filho fora do sistema de ensino por falta de dinheiro, estamos cansados”, desabafou a mãe, viúva.
O chefe do departamento de Administração e Finanças da UEA, António Laureano, assumiu a dívida e responsabiliza o Ministério das Finanças pelos atrasos salariais naquela instituição angolana de utilidade pública.
Segundo o responsável, a UEA, fundada em 1975 pelo primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto, deixou de receber cabimentação financeira a partir do Ministério das Finanças, por via do Ministério da Cultura, em dezembro de 2019.
“Até agora, não temos nenhuma informação oficial sobre os motivos da não-cabimentação orçamental à UEA”, afirmou António Laureano à rádio Ecclesia.
Bibliotecários, motoristas, funcionários administrativos, jardineiros, agentes de segurança e outros compõem o grosso de trabalhadores da UEA sem salários.
Fundada em 10 de dezembro de 1975, a UEA é a mais antiga organização cultural da era pós-independência de Angola e foi proclamada pelo primeiro Presidente angolano, António Agostinho Neto, que foi primeiro líder da mesa da assembleia geral.
Com sede em Luanda, a UEA comporta vários espaços divididos em biblioteca, um cibercafé, um setor editorial, auditório para 150 pessoas, uma sala VIP e ainda um salão nobre de trabalho dos seus filiados.
O escritor David Capelenguela é, desde maio de 2019, o secretário-geral da União dos Escritores Angolanos.
Lusa