O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, tornou-se hoje réu por corrupção e branqueamento de capitais após decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que determinou ainda o seu afastamento do cargo por mais um ano.

Por unanimidade, o STJ aceitou hoje a acusação apresentada pela Procuradoria-Geral da República contra o governador do Rio de Janeiro, que já tinha sido afastado do cargo em 28 de agosto último, e vai agora responder pelos crimes de corrupção passiva e branqueamento de capitais, além de formação de quadrilha, por alegada participação em esquemas ilícitos que desviaram recursos da área da saúde durante a pandemia de covid-19.
Além do afastamento do cargo, foram ainda prorrogadas medidas cautelares como a proibição de Witzel frequentar a sede do poder executivo, manter contacto com funcionários ou morar no Palácio Laranjeiras, residência oficial do executivo do Rio de Janeiro.
Segundo o Ministério Público Federal, Witzel terá recebido, por intermédio do escritório de advocacia da sua mulher, Helena Witzel, cerca de 554,2 mil reais (88,8 mil euros) em subornos.
A descoberta do alegado esquema criminoso teve início com o apuramento de irregularidades na contratação dos hospitais de campanha, ventiladores e medicamentos para o combate à pandemia do novo coronavírus.
O Ministério Público afirma que o executivo do Rio de Janeiro estabeleceu um esquema de subornos para a contratação de emergência e para a autorização de pagamentos a organizações sociais que prestam serviços ao Governo, especialmente nas áreas de Saúde e Educação.
“Talvez tenha sido a coisa mais chocante que eu tenha visto, tanto no Rio de Janeiro, quanto o que aconteceu em outros estados da federação. Nessa pandemia, ao invés de proporcionar um momento afetivo, um momento em que as pessoas tentam minimizar essa dor, elas usaram em benefício próprio. Talvez seja a coisa mais terrível que tenha acontecido num momento de calamidade”, disse hoje a subprocuradora-geral Lindôra Araújo, citada pelo jornal O Globo.
“Eu diria que, num momento equiparável à guerra, as pessoas usaram em benefício próprio o dinheiro que veio da União Federal para usar em hospitais de campanha, ventiladores, as verbas foram desviadas em benefício de outras pessoas”, acrescentou.
Pelo mesmo motivo, Witzel, ex-juiz e governador do Rio de Janeiro, eleito em 2018 pelo Partido Social Cristão (PSC), é também alvo de um processo de destituição em tramitação na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
O Rio de Janeiro é atualmente governado temporariamente pelo vice-governador, Claudio Castro, que também está sob investigação no mesmo caso.
Além dos sucessivos casos de corrupção nas prefeituras e Governos, o emblemático estado do Rio de Janeiro é ainda um dos mais afetados pela pandemia, ao concentrar mais de 547 mil casos de infeção e 30.950 mortes.
O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, ao contabilizar o segundo maior número de mortos (234.850, em mais de 9,6 milhões de casos), depois dos Estados Unidos.
A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.355.410 mortos no mundo, resultantes de mais de 107,3 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.