Criar uma coleção durante o confinamento era como um “milagre”, mas a Dior organizou nesta quarta-feira (22) seu primeiro desfile pós-pandemia do novo coronavírus no centro histórico de Lecce, no sul da Itália, cheio de luzes para dar esperança aos artesãos e artistas afetados pela crise sanitária.
“Todo mundo participou com muito entusiasmo deste projeto, dissemos: ‘vamos tentar, trabalhemos à distância, com [o aplicativo] Zoom, mas vamos seguir adiante’, e quando vimos a coleção, pensamos ‘é um milagre’. Não achávamos que conseguiríamos algum dia”, admitiu à AFP Maria Grazia Chiuri, criadora da coleção feminina da ‘maison’.
Vestidos longos de todas as tonalidades de branco ou de retalhos de lenços bordados, estampas de papoulas e centáureas, espigas de trigo de ráfia bordadas em tule de seda preta, um tecido listrado que lembra um lençol, profusão de rendas até mesmo em calças: a mulher Dior viaja em cruzeiro com um estilo rústico, mas muito elegante.
Diante da tristeza, a paleta multicolorida, em que predominam o rosa e o laranja, se desdobra em casacos xadrez de caxemira ou na lendária jaqueta Dior, de tricô.
Bordados de pérolas e lantejoulas em musselina ou camurça brilham nas instalações luminosas. As joias se inspiraram na coleção de obras da Grécia antiga do museu arqueológico de Taranto, Puglia, onde a influência grega é muito forte.
Esta coleção “de cruzeiro”, que as grandes casas parisienses apresentam na primavera fora das quatro Semanas da Moda anuais e com frequência no exterior, foi lançada em novembro, mas foi executada em grande parte durante o confinamento, em condições inéditas.
Sem convidados, a casa manteve um desfile que estava inicialmente previsto para maio na Piazza del Duomo em Lecce, em Puglia, terra amada por Maria Grazia Chiuri, onde seu pai nasceu e onde ela passava as férias na casa das avós agricultoras.
A coleção da Dior alta costura, reduzida e com peças em miniatura, foi apresentada no começo de julho em um filme durante a Semana da Moda virtual, em Paris.
Múltiplas colaborações do show de Lecce celebram e reinterpretam o ‘savoir-faire’ tradicional da região: da arte de tricotar às “Luminárias”, as arquiteturas luminosas que “vestem” as cidades do sul da Itália durante as festas.