Segunda-feira, 23 de Dezembro, 2024

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Governo brasileiro disponibilizou material político e racial para ensino do português

O Governo brasileiro disponibilizou nas suas plataformas ‘online’ material didático para estrangeiros aprenderem português com alegados juízos de valor de cariz político, racial e social, tendo o conteúdo sido retirado do ‘ar’ após uma reportagem.

Segundo o jornal O Globo, o escândalo de corrupção a envolver o ex-Presidente brasileiro Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores), o aborto ou o preconceito estético fazem do material oferecido pelo executivo.

Num dos exercícios, para ensinar a conjugação do verbo “ficar”, o texto pede que o leitor complete a frase: “Se ela alisasse o cabelo, ela [—] mais bonita”.

No Brasil, a justiça já chegou a considerar “racismo” empresas que pediram a funcionárias negras que alisassem o seu cabelo de forma a “cuidarem da sua aparência” e manterem um aspeto “arrumado”. Situações semelhantes são relatas com frequência por mulheres negras no país.

“Se eu soubesse que o Lula seria tão corrupto e se envolveria com o mensalão [como ficou conhecido um dos escândalos de corrupção a envolver o ex-Presidente], eu não teria votado nele”, é outras das frases usadas no material didático.

Para ensinar a conjugação no futuro, um dos exemplos pedia para completar os exercícios com os verbos “apropriar” e “conseguir”: “Se o MST [Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, um dos mais importantes movimentos sociais do Brasil] se [—] de nossas terras, nunca mais [—] reavê-las”.

Outro exemplo encontrado para a conjugação do verbo haver é: “Se as mulheres não abortassem, não [—] tantas clínicas de aborto clandestinas”.

Segundo o Globo, a série de livros “Só Verbos” estava disponível na página da Rede Brasil Cultural, da divisão de promoção da língua portuguesa do Ministério das Relações Exteriores do país sul-americano.

Confrontado pelo jornal, o ministério reconheceu que o material “não se coaduna com as diretrizes estabelecidas pelos guias curriculares” e, por isso, foi “prontamente retirado da página eletrónica da Rede Brasil Cultural”.

Contudo, a decisão de retirar do ‘site’ o conteúdo só ocorreu depois de o jornal brasileiro pedir explicações sobre o ocorrido.

Segundo o atual executivo, o material estava no ar desde 2013, ano em que Lula da Silva ainda ocupava a Presidência brasileira (2003-2011), acrescentando que o conteúdo foi incluído no sistema por “terceiros”.

A Rede Brasil Cultural promove a língua portuguesa e a cultura brasileira no exterior e está presente em 44 países, em cinco continentes.

Os polémicos exercícios estavam assinados pela autora Airamaia Chapina, que disse à Globo que não foi contratada para elaborar o material, nem contactada para que fosse divulgado nas páginas da Internet do Governo.

A autora negou ainda qualquer vínculo político ou racial com o material que redigiu.

Sobre a frase que relacionou cabelo liso com sinónimo de beleza, ela disse que “deve ter dado” esse exemplo porque o seu próprio cabelo é ondulado, e se considera “mais bonita com ele liso”.

Sobre Lula da Silva, a professora indicou que “foi um exemplo qualquer”. “Provavelmente deveria ser algo que estava em voga”, defendeu.

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