Analistas internacionais e sectores da sociedade civil levantam sérias suspeitas sobre a natureza do golpe militar que interrompeu o processo eleitoral na Guiné-Bissau, dias depois da realização das eleições gerais de 23 de Novembro.

A intervenção dos militares, ocorrida na véspera da divulgação dos resultados provisórios, está a ser interpretada como uma possível manobra para impedir a confirmação da vitória do candidato da oposição, José Dias Fernandes, contrariando o presidente cessante, Umaro Sissoco Embaló.
Segundo dados preliminares, José Dias Fernandes liderava a contagem de votos, cenário que aumentou a tensão política em Bissau. Fontes da sociedade civil e vários analistas consideram “altamente suspeito” o facto de o golpe ter sido anunciado poucas horas antes de a Comissão Nacional de Eleições divulgar os resultados oficiais, classificando o timing como “conveniente para quem teria muito a perder nas urnas”.
O golpe foi anunciado 12:40 desta quarta-feira, 26 de Novembro, quando militares afirmaram ter assumido “controlo total” do país, decretaram o encerramento de fronteiras e suspenderam o processo eleitoral. Tiros foram ouvidos perto de edifícios públicos estratégicos, incluindo a sede da CNE e o palácio presidencial, aumentando a inquietação interna e internacional.
Apesar de não existirem ainda conclusões formais, vários observadores admitem a possibilidade de uma encenação de instabilidade para justificar a interrupção do escrutínio. Organizações cívicas locais afirmam que podem estar a ocorrer “tentativas de manipulação institucional para alterar o rumo dos resultados” e apelam à intervenção dos parceiros internacionais.
A CEDEAO, a União Africana e diversos governos estrangeiros manifestaram preocupação e condenaram a ruptura da ordem constitucional, apelando ao restabelecimento imediato do processo eleitoral, à protecção da Comissão Nacional de Eleições e à garantia da segurança dos candidatos e cidadãos.
Especialistas alertam que, se não houver transparência absoluta e regresso rápido à normalidade constitucional, a Guiné-Bissau arrisca prolongar o ciclo de instabilidade que tem marcado a sua história política desde a independência. Para estes analistas, uma investigação internacional independente e o acompanhamento contínuo das organizações regionais serão cruciais para evitar que a crise evolua para uma situação mais grave.

