As declarações atribuídas ao chanceler alemão Friedrich Merz sobre a alegada dificuldade em encontrar “um pedaço de pão decente” durante a sua estadia em Luanda, por ocasião da Cimeira União Europeia–União Africana realizada nos dias 24 e 25 de Novembro, desencadearam reacções de indignação e críticas nas redes sociais e na imprensa internacional.
Segundo vários meios de comunicação estrangeiros, Merz fez o comentário na terça-feira, 25 de Novembro, durante uma visita a uma padaria em Hamburgo, onde afirmou que “só se dá conta da qualidade do pão alemão quando se está no estrangeiro”, acrescentando que, recentemente em Luanda, teria encontrado “grande dificuldade em obter um pão de qualidade” ao pequeno-almoço.
As declarações, amplamente disseminadas através das redes sociais, foram consideradas por muitos como culturalmente insensíveis e desrespeitosas, sobretudo tendo em conta o contexto diplomático da sua presença em Angola, onde decorreu um dos mais importantes encontros multilaterais do ano entre África e a União Europeia.
Reacções de indignação e acusações de desconsideração cultural
Vários analistas e internautas acusaram Merz de falta de tacto e de demonstrar uma visão eurocêntrica, num momento em que a Europa procura reforçar uma parceria “igualitária” com África. Comentadores sublinharam que declarações desta natureza contrastam com o discurso oficial europeu, que em Luanda destacou a importância de uma cooperação assente no respeito mútuo e na soberania dos países africanos.
Alguns líderes de opinião africanos classificaram o comentário como um exemplo de “arrogância cultural”, enquanto utilizadores angolanos das redes sociais reagiram de forma irónica, comparando a diversidade de pães locais com a suposta exigência culinária do dirigente alemão.
Cimeira UE–UA marcada pela defesa do multilateralismo e da igualdade entre parceiros
A polémica surge na sequência de uma cimeira em que a União Europeia e a União Africana reafirmaram a necessidade de fortalecer uma relação baseada na confiança e no desenvolvimento conjunto. O próprio Presidente do Conselho Europeu, António Costa, destacou durante o encontro que a Europa vê o capital humano africano como o seu maior recurso e que o objectivo é promover investimentos que gerem valor acrescentado no próprio continente.
A repercussão das declarações de Merz contrastou com o tom diplomático da cimeira, colocando sob escrutínio a coerência entre o discurso institucional da União Europeia e as declarações públicas das suas figuras políticas mais proeminentes.
Governo angolano não comenta, mas sociedade civil reage
Até ao momento, não houve pronunciamento oficial do Governo de Angola sobre o incidente. No entanto, figuras da sociedade civil e comentadores nacionais sublinharam que, independentemente da veracidade do tom exacto da declaração, comentários desse tipo não contribuem para o ambiente de respeito e cooperação entre países parceiros.
Alguns especialistas em relações internacionais lembraram que episódios semelhantes, envolvendo líderes europeus, já provocaram desgastes diplomáticos no passado, alertando para a necessidade de maior sensibilidade cultural por parte de governantes em deslocações ao continente africano.
