Isabel dos Santos, outrora a mulher mais rica de África e filha do ex-presidente angolano José Eduardo dos Santos, fez recentemente graves acusações relacionadas ao projeto da refinaria do Lobito, denunciando alegados desvios bilionários.
Em entrevista ao jornalista Herlander Napoleão, a empresária afirmou que a terraplanagem da refinaria custou à Sonangol mais de um bilião de dólares, um valor que considerou excessivamente elevado para a dimensão da empreitada, sugerindo possíveis casos de corrupção e desvio de verbas públicas.
Apesar da gravidade da denúncia, a revelação não ganhou grande repercussão no espaço público ou mediático. Nem a imprensa nacional nem os principais veículos internacionais ampliaram as acusações. Esse silêncio tem gerado reflexões sobre a forma como a credibilidade de quem denuncia influencia a recepção e a relevância dada ao assunto.
A Importância da Credibilidade de Quem Denuncia
Se a denúncia tivesse sido feita por figuras como Rafael Marques, Carlos Rosado ou Evaristo Mulaza — conhecidos pelo seu histórico de luta contra a corrupção e as más práticas em Angola —, a repercussão seria significativamente diferente. Nesses casos, seria plausível esperar uma ampla cobertura mediática, debates públicos e até reações da Procuradoria-Geral da República, possivelmente resultando numa investigação formal.
No entanto, Isabel dos Santos carrega o peso de um passado associado ao mesmo sistema que agora denuncia. Durante décadas, a empresária foi apontada como uma das principais beneficiárias do saque aos recursos do país sob o regime de seu pai. Para muitos angolanos, suas denúncias não têm a mesma legitimidade ou motivação ética que as de outros críticos do governo.
Essa falta de credibilidade parece ofuscar o conteúdo das denúncias, levando parte da opinião pública a interpretar as revelações como movidas por ressentimento ou vingança, especialmente após as sanções impostas pelo governo angolano e o congelamento de seus bens no Reino Unido.
O Silêncio que Grita
A denúncia de Isabel dos Santos surge num momento em que o combate à corrupção é um dos pilares da governação do Presidente João Lourenço. No entanto, o silêncio em torno do caso expõe contradições: se há uma suposta luta contra a corrupção, por que não investigar uma acusação tão séria?
A ausência de reações também pode ser vista como um reflexo da seletividade com que o combate à corrupção é conduzido no país. Enquanto adversários políticos enfrentam processos judiciais, acusações envolvendo figuras próximas ao atual governo muitas vezes não recebem a mesma atenção.
Reflexões para o Futuro
O caso evidencia que, em Angola, o mensageiro importa tanto quanto a mensagem. A falta de repercussão das declarações de Isabel dos Santos levanta questões sobre o papel da credibilidade, da ética e das motivações por trás de denúncias. Também coloca em evidência a responsabilidade da imprensa em investigar e informar, independentemente de quem faz as acusações.
O silêncio em torno desta denúncia é mais um alerta sobre os desafios da transparência e da justiça em Angola. Afinal, se a luta contra a corrupção deve ser levada a sério, todas as acusações, independentemente de quem as faça, merecem ser investigadas com rigor.