Os donativos continuam hoje a chegar a um dos abrigos para os desalojados pelo incêndio mais mortífero da história de Hong Kong, numa altura em que os bombeiros continuam a combater as chamas.

Serena, de 16 anos, carrega uma caixa com garrafas de água para entregar numa escola secundária de Tai Po, convertida num dos abrigos temporários para os afetados pelo incêndio.
Além dos 900 residentes do complexo residencial Wang Fuk Court, onde deflagrou o incêndio, as autoridades ordenaram aos habitantes do vizinho Kwong Fuk Estate que abandonassem as casas por precaução.
“Esta é a minha escola, mas hoje não temos aulas por causa do incêndio”, explica à Lusa a jovem, que se juntou a vários colegas para comprar e doar mantimentos, incluindo bolachas e massa instantânea.
A escola fica a pouco mais de dois quilómetros do complexo residencial dos Novos Territórios, no norte de Hong Kong, que na quarta-feira à tarde se incendiou. Ao segundo dia, colunas de fumo continuam a subir aos céus e o cheiro a queimado sente-se no ar.
“Toda a gente conhece alguém que vivia em Wang Fuk”, sublinha Serena. “Nunca pensámos que isto pudesse acontecer aqui”, acrescenta.
Mas não é só em Tai Po, situado mais perto da fronteira com a metrópole de Shenzhen do que do centro de Hong Kong, que a população se tem mobilizado para ajudar.
Uma idosa veio de Tuen Mun, a 30 quilómetros de distância, com cobertores e roupa. “É pouco para quem perdeu tudo o que tinha”, lamenta a residente, de apelido Fong.
O bairro social, construído nos anos 80, é composto por oito torres com perto de 30 andares e um total de 1.984 apartamentos, onde viviam cerca de quatro mil pessoas.
De acordo com a imprensa local, o incêndio levou também muitas pessoas a tentar doar sangue, esgotando hoje as marcações no centro de Causeway Bay.
O incêndio causou pelo menos 44 mortos e 68 feridos, incluindo 16 em estado crítico, disse hoje o corpo de bombeiros de Hong Kong.
Este é já o incêndio mais mortífero da história da cidade. Em 1996, quando Hong Kong ainda era uma colónia britânica, um incêndio num edifício comercial em Jordan, na zona de Kowloon, causou 41 mortos e 81 feridos.
O corpo de bombeiros disse que já tinha conseguido entrar em contacto com várias das 279 pessoas que estavam inicialmente listadas como desaparecidas.
A temperatura “está muito elevada e há pisos onde não conseguimos contactar as pessoas que ligaram a pedir ajuda, mas vamos continuar a tentar”, assegurou o vice-diretor do corpo de bombeiros, Derek Armstrong Chan.
No local, o fumo negro que se espalhou pela zona começou a diminuir, permitindo aos bombeiros utilizar escadas para combater as chamas, que continuam ativas, sobretudo nos andares mais elevados.
A polícia deteve três homens por suspeita de homicídio involuntário, após a descoberta de materiais inflamáveis deixados durante trabalhos de manutenção que levaram o fogo a propagar-se rapidamente pelos andares de bambu.
Estão mais de 700 bombeiros envolvidos no combate às chamas, além de equipas de socorro e polícia.
Lusa

