O Presidente da República de Angola e Presidente em Exercício da União Africana, João Lourenço, e o Presidente do Conselho Europeu, António Costa, protagonizaram esta quarta-feira, em Luanda, uma conferência de imprensa conjunta que destacou a necessidade de fortalecer uma parceria assente na confiança, no respeito mútuo e no desenvolvimento sustentável entre África e a União Europeia.

A conferência decorreu após a 7.ª reunião de alto nível entre as duas organizações, num momento marcado por desafios globais, disputas geopolíticas e o crescente interesse internacional nos minerais críticos e no potencial económico do continente africano.
África rejeita visões neocolonialistas e reafirma confiança na parceria com a Europa
Questionado pela Televisão Pública de Angola sobre eventuais receios de uma abordagem neocolonialista por parte de países europeus interessados nos vastos recursos naturais africanos, João Lourenço considerou que a “melhor garantia” reside na confiança construída ao longo de décadas.
“Existe confiança, sobretudo nos últimos 25 anos, desde que esta parceria estratégica foi estabelecida. É nesta base que consideramos estarem reunidas as garantias de sucesso desta cooperação”, afirmou o Presidente.
Na mesma linha, António Costa sublinhou que a visão europeia para África não se limita aos recursos minerais, mas centra-se no potencial humano e industrialização do continente.
“O maior e melhor recurso de África é o seu capital humano. Queremos uma parceria que permita transformar os recursos naturais dentro do território africano, gerar valor acrescentado e criar emprego aqui em África”, disse.
O líder europeu destacou ainda o papel das empresas europeias como principais investidores no continente e mencionou investimentos estruturantes no âmbito do Global Gateway, nas áreas da formação profissional, indústria, corredores logísticos e vacinas.
Ucrânia, Palestina, Sudão e RDC: Europa e África reafirmam defesa da ordem multilateral
A Agência Italiana de Notícias (ANSA) levantou a questão sobre a posição africana face à guerra na Ucrânia, num contexto em que a Rússia reforça a sua presença geopolítica e narrativa no continente.
António Costa foi taxativo ao afirmar que a parceria África–Europa assenta na defesa inabalável da Carta das Nações Unidas e dos princípios do multilateralismo.
“Todos estes conflitos — Ucrânia, Gaza, Sudão, RDC — são violações dos princípios da ONU. Não há alternativa à ordem internacional baseada em regras. A alternativa é o caos”, afirmou.
João Lourenço, por sua vez, recordou o papel histórico da então União Soviética no apoio às lutas de libertação africanas, sublinhando que tal contributo permanece reconhecido pelos povos africanos. Contudo, foi claro sobre a posição do continente perante a invasão da Ucrânia:
“África defende a justiça e os princípios. Por isso defendemos o direito à independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia, tal como defendemos para nós no passado”, afirmou.
Parceria, não confrontação: a principal lição da cimeira
Respondendo à Africa TV Media and Finance sobre que lições África deve retirar desta 7.ª reunião, António Costa resumiu:
“Continuaremos a trabalhar juntos pela paz e prosperidade através do multilateralismo.”
João Lourenço reforçou que a principal mensagem da cimeira é a valorização da parceria em detrimento da confrontação:
“Vivemos num mundo marcado por tensões extremas e guerras. O exemplo que queremos dar é que preferimos a parceria à confrontação. É essa colaboração que permitirá o desenvolvimento dos nossos países e a melhoria das condições de vida dos nossos povos.”
O Presidente apelou ainda à defesa firme do multilateralismo, denunciando a tendência crescente de unilateralismo no cenário internacional.
Palavras-chave: João Lourenço, António Costa, União Africana, União Europeia, parceria África-Europa, multilateralismo, Ucrânia, minerais críticos, Global Gateway, Cimeira UA-UE, política internacional, Angola.

