O número de conflitos armados em África aumentou 45% desde 2020 e os mais de 50 que estão ativos representam cerca de 40% dos confrontos armados no mundo, anunciou hoje o vice-presidente do Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

“O que é muito preocupante é que se trata de um aumento de 45% do número de situações de conflitos armados em África desde 2020”, afirmou Gilles Carbonnier, numa entrevista à agência de notícias France-Presse (AFP).
Estas mais de 50 situações de conflitos armados ativos em África, que representam cerca de 40% dos conflitos totais no mundo, deslocaram cerca de 35 milhões de pessoas no continente, ou seja, “quase metade das pessoas deslocadas” globalmente, referiu o vice-presidente da CICV.
E se por um lado “as necessidades são enormes”, o CICV, tal como outras organizações humanitárias, enfrenta uma diminuição do financiamento da ajuda internacional, considerou Gilles Carbonnier.
Entre as causas destacam-se o desmantelamento da Agência Norte-Americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês) pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, e a redução dos financiamentos dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) e da União Europeia (UE).
Em julho, um estudo internacional tinha revelado que o colapso dos financiamentos norte-americanos destinados à ajuda internacional poderia causar mais de 14 milhões de mortes adicionais até 2030 entre os mais vulneráveis, incluindo um terço de crianças.
“Isto obriga-nos a decisões muito difíceis, nas quais temos de reduzir, ou mesmo cessar, algumas das nossas operações para dar prioridade a outras”, sublinhou ainda.
Para o vice-presidente do CICV, a situação mais “preocupante” é no Sudão, mergulhado desde abril de 2023 numa guerra civil.
Os confrontos entre o exército regular e as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) causaram dezenas de milhares de mortos, deslocaram cerca de 12 milhões de habitantes e provocaram o que a Organização das Nações Unidas (ONU) descreve como a “pior crise humanitária do mundo”.
No país, “o sistema de saúde está em grande parte destruído”, sublinhou Carbonnier, expressando a sua preocupação com o ressurgimento de epidemias, nomeadamente cólera e dengue.
O responsável também lamentou um “ressurgimento das hostilidades” na Somália, país do Corno de África confrontado com ataques dos terroristas do Al-Shebab, bem como no leste da República Democrática do Congo, onde a violência se intensificou desde janeiro com a tomada das grandes cidades de Goma e Bukavu pelo grupo armado M23, alegadamente apoiado pelo Ruanda.
Lusa