O presidente da UNITA, oposição angolana, defendeu hoje um reconhecimento por mérito e não “por perdão” aos líderes históricos Jonas Savimbi (UNITA) e Holden Roberto (FNLA), enquanto a vice-presidente do MPLA (poder) elogiou o gesto de reconciliação.

Adalberto Costa Júnior, líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), considerou “absolutamente desnecessário”, todo o processo percorrido para o reconhecimento destes dois signatários dos Acordos de Alvor, que vão ser condecorados com a Medalha Comemorativa dos 50 anos da Independência Nacional.
O Presidente angolano, João Lourenço, anunciou hoje, enquanto falava na Assembleia Nacional, a distinção do líder fundador da UNITA, Jonas Savimbi, e de Holden Roberto, líder fundador da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).
Segundo Adalberto Costa Júnior, desde o início do processo sempre foi defendida a necessidade do reconhecimento “dos pais da nação, mas chegou a ouvir como resposta que “não há ninguém que tenha dois pais”.
“Depois a Assembleia Nacional recebeu a proposta de lei (…) e foi recusado efetivamente o reconhecimento aos pais da nação”, disse, lembrando que já houve “uma série imensa de não aceitações individuais de condecorações”, devido a esta recusa de “todos os pais da nação serem tratados da mesma forma, serem todos reconhecidos da mesma maneira”.
O presidente da UNITA frisou que foi um processo muito longo e “absolutamente desnecessário” por invocar um perdão.
“Nós fomos todos chamados a ouvir que, finalmente, há um atribuir, mas eu confesso — não ouvi mal — acabo de ver o livro [do discurso] e o livro diz em nome do perdão”, realçou.
Para o político, o reconhecimento aos pais da nação “por perdão” não é a melhor via nem “a mais correta”.
“Aqueles que lutaram pela independência nacional entregaram o melhor que tinham de si, todos o fizeram num âmbito de voluntarismo, o reconhecimento é um reconhecimento para todos, de mérito, profundamente de mérito, nunca por perdão”, reforçou.
“O Doutor Savimbi e Holden Roberto, que eram os casos que nós sempre reclamamos, são figuras nacionais de relevância absoluta, elas estão muito para além dos vínculos familiares, portanto, aqui não é bem uma questão de receber ou não receber [as medalhas de condecoração]”, acrescentou.
O líder da UNITA acredita que o reconhecimento chega agora pela postura do partido, durante todo o processo.
“Nós todos teríamos participado na festa daquilo que são os 50 anos. Desnecessariamente se levou a este percurso e ainda assim hoje se diz pelo perdão. Perdão porquê? Por terem lutado pela independência, quem lutou pela independência deve ser perdoado para ser reconhecido, acho que não”, vincou.
Em declarações à Lusa, a vice-presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), Mara Quiosa, considerou importante reconhecer a coragem que o Presidente da República tem estado a demonstrar para se continuar a promover a reconciliação nacional entre todos os angolanos.
“Este ponto, que nós consideramos um ponto alto também no discurso sobre o Estado da nação, demonstra claramente isto, esse comprometimento com a paz, com todos os angolanos independentemente da sua ideologia política, da sua crença”, referiu.
Mara Quiosa destacou ainda a necessidade de se reconhecer que em determinados momentos, todos os angolanos contribuíram para o alcance pela independência e para o desenvolvimento do país.
“Foi isso que o camarada Presidente deixou aqui expresso, é preciso continuar a promover o perdão, a reconciliação nacional entre todos angolanos”, salientou.
A decisão de distinguir os fundadores da UNITA e da FNLA surge após críticas e polémica pela ausência destes nomes nas listas de condecorações já atribuídas no âmbito das celebrações da independência, e foi fortemente aplaudida no hemiciclo onde hoje João Lourenço fez o seu discurso do Estado da Nação, marcando a abertura do ano parlamentar.
“É neste quadro, no espírito do perdão, da paz e da reconciliação nacional, da unidade da Nação, que vamos estender este reconhecimento nacional aos signatários dos Acordos de Alvor, atribuindo a todos eles a medalha comemorativa dos 50 anos da Independência Nacional”, declarou, recebendo prolongados aplausos da bancada do MPLA (partido do poder), com muitos deputados de pé.
Lusa