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Guiné-Bissau atravessa um dos períodos mais difíceis em 52 anos de independência, diz analista

A Guiné-Bissau está a atravessar um dos períodos mais difíceis dos 52 anos de independência que as eleições de 23 de novembro só por si não conseguirão resolver, disse esta terça-feira à Lusa o jornalista e escritor guineense Tony Tcheka.

 “Estamos a atravessar um dos períodos mais difíceis da nossa vida de país independente”, declarou Tony Tcheka, que participa, na quarta-feira, num evento em Lisboa para assinalar o Dia da Independência, proclamada unilateralmente a 24 de setembro de 1973 pelo movimento de libertação liderado pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), fundado em 1956 por Amílcar Cabral.

A iniciativa é da Casa da Cultura da Guiné-Bissau, que promove uma programação especial na Biblioteca de Alcântara — José Dias Coelho, em Lisboa, com atuação dos Netos do Bandim e Sani Dubois e a apresentação do livro “Amílcar Cabral: Um Nacionalista e Pan-Africanista Revolucionário”, de Peter Karibe Mendy.

A apresentação do livro terá a participação de Victor Barros e Tony Tcheka, o jornalista e poeta que, mesmo em Portugal, diz continuar a ser “observador atento” da situação política e social da Guiné-Bissau.

Uma “realidade triste e dura” é o que observa, lamentando que, depois da esperança dos primeiros anos após a libertação, o país esteja num retrocesso de “um sonho que tem sido sistematicamente adiado”.

“Há um poder que não está muito em sintonia com os valores da liberdade e da democracia e que acaba por afetar sobretudo as populações mais desfavorecidas”, afirmou.

O parlamento guineense não funciona há quase dois anos, desde a dissolução antes de cumpridos os prazos constitucionais, decidida pelo Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló.

O chefe de Estado já nomeou dois Governos de iniciativa presidencial, marcou e cancelou as eleições legislativas e convocou para 23 de novembro próximo eleições gerais, legislativas e presidenciais, com a oposição a reclamar que o mandato presidencial de cinco anos já foi ultrapassado.

“A Guiné tem um regime que tem dificuldade em coabitar com as liberdades, a Constituição da República foi pura e simplesmente suspensa. São elementos sintomáticos para perceber que estamos a passar um dos piores períodos da Guiné-Bissau”, considerou Tony Tcheka.

Um dos casos que o analista apontou para ilustrar a afirmação é “a forma difícil como o regime lida com a imprensa” e citou o bastonário da Ordem dos Jornalistas da Guiné-Bissau, António Nhaga, que “manifestou uma preocupação enorme com aquilo que chama tentativas do poder político de controlar e domesticar os jornalistas”.

Para Tcheka, “é difícil imaginar como é que o país vai conseguir recuperar o tempo perdido”, quando “as infraestruturas não funcionam, o que a terra dá não se reverte a favor do povo (…)”, além da “forma como as riquezas do país são exploradas” e a “não prestação de contas”.

O retrato que faz é de um país onde “é dramática” a situação da saúde e de grupos vulneráveis como as crianças, as escolas não funcionam, não há emprego garantido com salário.

“Assiste-se a uma debandada de quadros nas áreas da saúde e educação”, afirmou, apontando dados do Ministério da Saúde da Guiné-Bissau que revelam que “mais de 800 profissionais da saúde já deixaram o país”.

Para Tony Tcheka, trata-se de “indicadores que mostram que a luta, o sonho dos combatentes da liberdade da pátria está cada vez mais longe, com a descrebilização do país e interesses a favor de grupos partidários”.

“Tudo é politizado e partidário, não é em função de objetivos nacionais”, considerou, questionando de onde saem os “novos ricos”, quando “falta o prato de arroz à mesa” das famílias guineenses.

No seu entender, não se vislumbra que “as eleições, só por si, resolvam” os problemas dos guineenses e defende que “a força política que ganhar tem que abrir espaço para que haja diálogo e a sociedade civil possa participar”.

Lusa

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