A embaixadora da Palestina em Lisboa, Rawan Suleiman, considerou hoje que a decisão de Portugal e de outros 14 países de reconhecerem o Estado da Palestina em setembro será um ato “muito importante, significativo e corajoso”.

Em declarações à agência Lusa, Rawan Suleiman admitiu que a posição defendida no final da conferência internacional para a implementação da solução de dois Estados, que decorreu esta semana na ONU, em Nova Iorque, “foi muito bem recebida pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, pela liderança da Palestina e também pelo povo palestiniano”.
Trata-se de “um passo em frente para defender a paz e a justiça e, claro, a implementação do direito internacional”, disse.
Portugal admitiu, na quarta-feira, que poderá reconhecer o Estado da Palestina em setembro, durante a sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas.
A posição portuguesa foi assumida numa declaração conjunta assinada pelos líderes diplomáticos de 12 países europeus, do Canadá, da Austrália e da Nova Zelândia, no final da conferência sobre a solução dos dois Estados.
Para a embaixadora palestiniana, “isto faz parte de um consenso global sobre o reconhecimento dos direitos do povo palestiniano de, antes de mais, exercer o seu direito à autodeterminação e ter o seu próprio Estado com as fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como capital”.
Um consenso que, de acordo com a representante da missão diplomática em Lisboa, é “muito importante, porque significa que se está a passar da fase das declarações para as ações”, mas também porque mostra uma reação perante a postura de Israel.
“O que uniu todos estes países foi a situação devastadora em Gaza, mas também na Cisjordânia, e a necessidade de reagir, de pressionar Israel para que trave esta agressão e este genocídio, permitindo um acesso humanitário incondicional, um cessar-fogo e o fim desta agressão”, defendeu.
Para a diplomata, a solução de ter dois Estados soberanos e reconhecidos — Israel e Palestina — só pode contribuir para a paz na região.
“Estamos nesta situação [de agredidos] há 77 anos, desde a ‘Nakba’ [termo árabe que significa Catástrofe e que se refere à expulsão, desde 1948, de cerca de metade da população predominantemente árabe da Palestina], com a ocupação de 1967 e a situação horrível provocada pela injustiça e pelas práticas ilegais de Israel”, lamentou.
Mas agora, sublinhou, “em conjunto com a comunidade internacional e em conformidade com o direito internacional, decidimos que a solução nunca será militar”.
A solução para esta região do Médio Oriente terá de passar por “tornar possível um horizonte político, por acabar com esta injustiça, acabar com esta ocupação, acabar com este genocídio e esta agressão do ocupante”, acrescentou Rawan Suleiman.
“Penso que todos na comunidade internacional percebem que isto não pode continuar. A paz não pode ser uma opção. Tem de ser uma obrigação moral e legal”, salientou.
Na quinta-feira, o primeiro-ministro português anunciou que vai ouvir o Presidente da República e os partidos políticos com representação parlamentar sobre o possível reconhecimento do Estado palestiniano.
O processo de ponderação é visto como normal pela embaixadora, que sublinhou que o reconhecimento de um Estado é sempre uma “decisão soberana de um país”.
No entanto, Rawan Suleiman garante que tem debatido a questão com partidos e autoridades portuguesas desde que chegou ao seu atual posto, há 11 meses, e que “consegue ver Portugal como parte do consenso global” sobre a Palestina.
Segundo o Governo, o reconhecimento do Estado palestiniano só acontecerá no âmbito de uma concertação com um conjunto de países com quem Portugal tem “mantido um diálogo permanente e que participaram ativamente nesta conferência [em Nova Iorque]” e se a Autoridade Palestiniana cumprir certas condições e garantias.
Até ao momento, pelo menos 142 dos 193 países-membros da ONU reconhecem o Estado palestiniano, segundo dados da agência noticiosa France-Presse.
Lusa