Após três dias marcados por violência, pilhagens e mortes, a capital angolana retomou esta quinta-feira um clima de relativa calma, ainda que sob forte presença policial e com um sentimento de apreensão em relação ao impacto económico dos tumultos.

Paragens de táxis lotadas, comércio reaberto e circulação regular de viaturas marcaram o cenário desta quinta-feira, contrastando com as cenas de destruição dos dias anteriores. Os “azuis e brancos”, táxis que são o principal meio de transporte da cidade, voltaram a circular normalmente, permitindo que trabalhadores e estudantes regressassem às suas rotinas.
Para muitos moradores, no entanto, a memória dos últimos dias permanece viva. “Esses últimos dias foram de guerra e nem conseguimos sair de casa”, contou a vendedora ambulante Lucinda Fernando, que lamentou as perdas causadas pelos atos de vandalismo. “Não se ganhou nada com isso, o país perdeu muito, nós perdemos e acredito que o Estado também perdeu receita”, afirmou.
Situação semelhante viveu Emília António Paulino, que perdeu parte dos produtos que vendia. “Na terça-feira sofremos muito, não queremos mais guerra. Queremos paz e que o Presidente faça alguma coisa para resolver os problemas do povo”, desabafou.
Além do trauma psicológico, há um receio generalizado de que os acontecimentos agravem o desemprego. Carlos Joaquim, trabalhador de um armazém saqueado, teme que muitos postos de trabalho sejam extintos. “A taxa de fome e de desemprego vai aumentar. Só temos a perder com o que aconteceu”, disse, apoiando-se numa muleta devido aos ferimentos que sofreu durante o ataque.
Taxistas também se mostraram apreensivos. Osvaldo Manuel, com 30 anos de profissão, lamentou a infiltração de grupos violentos na paralisação. “Nós paramos para cumprir o nosso dever, mas infelizmente apareceram pessoas que só queriam destruir. Isso mancha a nossa imagem”, referiu.
Os distúrbios, que começaram na segunda-feira devido à subida do preço dos combustíveis e das tarifas dos transportes, resultaram em 22 mortos, 197 feridos e mais de 1.200 detidos, segundo dados oficiais. A Polícia Nacional reforçou o patrulhamento em pontos estratégicos e promete manter as operações para evitar novos incidentes.
Apesar do regresso à normalidade, a população de Luanda pede diálogo e medidas concretas para aliviar a crise económica, de modo a evitar novos episódios de violência.
Lusa