Quinta-feira, 26 de Junho, 2025

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Angola prepara-se para produzir medicamentos e vacinas em território nacional

A indústria farmacêutica em Angola poderá tornar-se uma realidade nos próximos tempos, marcando uma viragem histórica no sistema nacional de saúde. A aposta do Governo neste sector estratégico visa reduzir a dependência externa, especialmente na aquisição de medicamentos essenciais e vacinas, muitas das quais ainda hoje são asseguradas por doadores e parceiros, como a GAVI — que realiza esta quarta-feira, em Bruxelas, a Cimeira de Promessas.

Entre as iniciativas em curso, destaca-se a iminente entrada em funcionamento da fábrica Ovihemba – Laboratório Farmacêutico S.A., no Huambo. Prevista para iniciar a produção em julho deste ano, a unidade terá capacidade inicial para produzir cerca de 100 milhões de comprimidos por ano, incluindo medicamentos como Paracetamol, Enalapril e Coartem, usados no tratamento da malária e de doenças cardiovasculares. Com um investimento avaliado entre cinco a seis milhões de dólares, o projecto empregará, numa fase inicial, mais de 30 técnicos qualificados.

Outro marco importante foi o lançamento, em junho, da primeira pedra do Laboratório Nacional de Controlo da Qualidade de Medicamentos, localizado na Zona Económica Especial Luanda-Bengo (Calumbo). Esta infraestrutura vai garantir que os medicamentos produzidos no país cumpram com padrões internacionais de qualidade. A entrada em operação está prevista para 2027 e ficará sob a alçada da Agência Reguladora de Medicamentos e Tecnologias de Saúde (ARMED).

Angola tem igualmente fortalecido a sua diplomacia económica para alavancar o sector farmacêutico. Em março deste ano, a Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações (AIPEX) firmou um acordo com a farmacêutica brasileira EMS, para a instalação de uma unidade de produção de genéricos no país. Já em maio, o Presidente da República, João Lourenço, visitou o Egito, onde conheceu o complexo “Gypto Pharma” e avançou com negociações para a transferência de tecnologia. A Índia, reconhecida mundialmente como um centro de produção farmacêutica, também foi identificada como parceiro estratégico.

Na Zona Económica Especial de Icolo e Bengo, decorrem ainda obras para a construção de um complexo farmacêutico da empresa Vitaflor, que pretende produzir, até 2026, comprimidos, injetáveis, soros e gases medicinais, num processo que poderá transformar significativamente a cadeia de abastecimento do país.

Segundo dados oficiais, Angola gastou cerca de 388 milhões de dólares em importações de produtos farmacêuticos em 2023, uma realidade que o Executivo pretende inverter com estes investimentos.

O objectivo do Governo é claro: garantir soberania sanitária, promover a industrialização, criar empregos qualificados e assegurar o acesso regular e seguro a medicamentos e vacinas produzidos em solo angolano.

Com estas iniciativas, Angola começa a traçar um novo rumo na saúde pública, apostando no fabrico nacional como pilar para um sistema mais resiliente, moderno e sustentável.

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