O ano de 2024 marcou um triste recorde ao registar o maior número de conflitos armados no planeta desde 1946, segundo um relatório do Instituto de Pesquisas de Paz de Oslo (PRIO), divulgado esta quarta-feira, 11 de Junho. O documento também revela que as Américas foram o continente com mais mortes provocadas por confrontos não governamentais, como disputas entre gangues e cartéis de droga.

De acordo com o estudo, foram contabilizados 61 conflitos com participação estatal em 36 países — número superior aos 59 registados em 34 países no ano anterior. A análise baseia-se em dados recolhidos pela Universidade de Uppsala, na Suécia.
“Não se trata apenas de um aumento numérico, é uma transformação estrutural. O mundo actual é muito mais violento e fragmentado do que há uma década”, afirmou Siri Aas Rustad, principal autora do relatório que acompanha as tendências globais de conflito desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
O levantamento aponta ainda 74 confrontos não estatais em 2024 (seis a menos do que em 2023), mas alerta para o elevado número de mortes na América Latina, onde cerca de 13.000 pessoas perderam a vida neste tipo de violência — quatro vezes mais do que em África e representando 74% do total mundial (estimado em 17.500 vítimas). Segundo o PRIO, este fenómeno é impulsionado pela acção de gangues fortemente organizadas e cartéis de droga.
Nos conflitos com envolvimento directo de Estados, registaram-se aproximadamente 129.000 mortos em 2024, tornando este o quarto ano mais sangrento desde 1989 — superado apenas pelos três anos anteriores —, devido sobretudo às guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza.
O continente africano continua a liderar no número de conflitos estatais (28), seguido pela Ásia (17), Médio Oriente (10), Europa (três) e Américas (dois, na Colômbia e no Haiti).
O relatório termina com um alerta para o risco do isolacionismo, especialmente por parte dos Estados Unidos, apelando à manutenção do compromisso internacional para evitar a escalada da violência global. “Não é momento para que os Estados Unidos ou qualquer outra potência abandone a solidariedade internacional”, advertiu Siri Aas Rustad, criticando indirectamente a política “America First” do presidente Donald Trump, reeleito em Janeiro.