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Como os papas escolhem seus nomes e o que revela a decisão de Leão XIV

Cidade do Vaticano, 8 de Maio de 2025 – A escolha do nome pontifício é um dos primeiros gestos simbólicos de um novo papa. No caso de Robert Francis Prevost, eleito nesta quinta-feira como o 268.º Papa da Igreja Católica, a decisão de adotar o nome Leão XIV não foi casual, mas sim uma clara declaração de intenções sobre a direção pastoral e social que pretende imprimir ao seu pontificado.

Como os papas escolhem seus nomes e o que revela a decisão de Leão XIV

Uma vez eleito no conclave, o novo papa tem apenas alguns minutos para anunciar o nome que deseja usar, antes de ser apresentado ao mundo na varanda central da Basílica de São Pedro com a célebre proclamação Habemus Papam. Essa escolha, embora rápida, é altamente deliberada: reflete geralmente admiração por papas anteriores, vontade de continuidade ou até mesmo o desejo de ruptura com tradições.

Segundo o vaticanista John Allen, “o nome é frequentemente o primeiro sinal que um novo papa dá sobre a marca que pretende dar ao seu pontificado”. E no caso de Leão XIV, a mensagem é clara: ele evoca diretamente Leão XIII, pontífice entre 1878 e 1903, reconhecido por lançar as bases da doutrina social da Igreja com a histórica encíclica Rerum Novarum (1891), um apelo pela justiça social e pelos direitos dos trabalhadores.

“É o papa do ensinamento social, com sua encíclica de 1891, que pode ser traduzida como ‘As grandes inovações’, então há uma marca social evidente”, explica o politólogo François Mabille, diretor do Observatório Geopolítico da Religião. Para Mabille, o nome indica que Leão XIV pretende retomar a centralidade dos temas sociais no debate eclesial, “não apenas em relação aos desvios da globalização, mas também frente aos desafios contemporâneos como a inteligência artificial”.

A escolha também carrega uma dimensão simbólica de continuidade com o pontificado de Francisco. Jorge Bergoglio, ao tornar-se o primeiro papa latino-americano em 2013, escolheu o nome Francisco em homenagem ao santo de Assis, símbolo da humildade e da defesa dos pobres. Curiosamente, à época, muitos esperavam que Bergoglio adotasse justamente o nome Leão, o que reforça agora o gesto de Prevost como possível homenagem indireta ao seu antecessor argentino.

Historicamente, Leão é um nome com peso no Vaticano. Já foi usado por treze pontífices antes de Prevost, sendo um dos nomes mais recorrentes da história papal, ao lado de João, Bento, Gregório, Clemente e Inocêncio. Isso dá à escolha um caráter ao mesmo tempo tradicional e estratégico.

Assim, ao escolher Leão XIV, o primeiro papa norte-americano revela a intenção de posicionar o seu pontificado como uma continuidade do ensinamento social da Igreja, com olhar atento aos marginalizados, aos desafios tecnológicos e às novas formas de exclusão no mundo contemporâneo.

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