O presidente do “Tchota Angola”, plataforma de Organizações Não-Governamentais (ONG), disse hoje que a fome no país ganhou “proporções desafiantes”, questionando as celebrações dos 50 anos de independência com “milhares de cidadãos em condições miseráveis”.
De acordo com o pastor evangélico, que falava na abertura da “Conferência Nacional Sobre Recursos Naturais: Fome e Riqueza”, a fome em Angola ganhou “proporções muito desafiantes”, apesar dos abundantes recursos naturais, traduzidos em “malefícios” para os cidadãos.
“Este ano a pobreza está mais forte (…), todos precisam de refletir com seriedade [sobre] este fenómeno da fome que assola o nosso país. Mesmo com a exploração permanente dos recursos, mesmo após o fim da guerra civil há 22 anos, a fome aperta e dos desafios são maiores”, lamentou Toni-A-Nzinga.
Para o presidente do “Tchota Angola”, plataforma da sociedade civil angolana focada na gestão e exploração dos recursos naturais, todas as forças vivas do país devem encontrar soluções para os problemas de hoje e “não apenas um grupo de cidadãos que dirige o país”, criticou, aludindo ao Governo angolano.
A riqueza do país “deve refletir-se na melhoria das condições de vida dos cidadãos e não nas viaturas e casas de luxo que construímos”, atirou.
Toni-A-Nzinga questionou também os termos e motivações das celebrações dos 50 anos de independência de Angola, a serem assinalados em 11 de novembro de 2025, quando “milhares de cidadãos vivem em condições miseráveis”.
“Isto é celebração?”, questionou, considerando que “enquanto as populações estiverem a viver em condições miseráveis, (…) não estamos independentes”.
Criticou a postura dos políticos que, no seu entender, no parlamento, defendem apenas a militância e não a cidadania para o desenvolvimento inclusivo e democrático do país: “Para Angola ser democrática todos devem participar no processo de cidadania”, notou.
Apontou, na sua intervenção, para a necessidade de “todos os cidadãos acordarem” em prol do desenvolvimento equilibrado e inclusivo do país, salientando que os recursos naturais “devem ser uma bênção e não malefício” para os cidadãos.
O contraste entre a abundância de recursos naturais e a situação de fome nas comunidades afetadas pela exploração, situação dos direitos humanos em contexto de exploração de recursos naturais e os desafios para transparência na indústria extrativa são alguns dos temas em abordagem nesta conferência que decorre até quinta-feira, em Luanda.
Milhares de cidadãos, entre políticos, ativistas e demais atores da sociedade angolana, marcharam no sábado, em Luanda, contra a fome.
Lusa