A Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO) pediu um “encontro urgente” entre os candidatos presidenciais Daniel Chapo e Venâncio Mondlane, para discutir a constituição de um Governo de “inclusão efetiva” e acabar com as manifestações.
Os escritores pedem, na carta que a Lusa teve hoje acesso, que os dois candidatos presidenciais mais votados, segundo dados divulgados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), realizem um encontro visando o alcance de um acordo para “terminar” com o que consideram de clima de instabilidade e violência, perda de vidas e destruição de infraestruturas.
Segundo os escritores, Venâncio Mondlane e Daniel Chapo devem encontrar-se para assumir um compromisso “sério e verdadeiro”, fazendo “cedências mútuas”, sem se pautarem por “arrogância ou posições radicais”.
“Iniciar o processo negocial para a criação de uma plataforma de entendimento que inclua a constituição de um Governo de inclusão efetiva, com vista a abrir portas para um processo de reforma profunda do Estado, envolvendo e beneficiando toda a Sociedade, sem exclusão, com particular realce para a camada jovem”, lê-se no documento da AEMO.
O mesmo documento pede igualmente a aparição pública dos dois candidatos para um comprometimento com a paz, a estabilidade e o desenvolvimento do país, ultrapassando “expressões de ódio e outras que incitem à violência”.
O coletivo apela à “constituição de um Comité de Sábios, para desenhar a arquitetura do diálogo entre os dois candidatos presidenciais mais votados, fazer a moderação dos encontros entre ambos e comunicar ao povo sobre o seu progresso”, acrescenta-se no documento.
Pelo menos três pessoas foram mortas e 66 ficaram feridas durante confrontos entre manifestantes e a polícia na quinta-feira, oitavo dia das greves convocadas por Venâncio Mondlane, anunciou hoje o Hospital Central de Maputo (HCM), maior unidade do país.
“Ontem, dia 07 [quinta-feira], em todas as nossas portas de entrada tivemos um cumulativo de 138 admitidos, dos quais a urgência de adultos teve 101 pacientes. Dos 101 pacientes, 66 foram vítimas dessas manifestações e os restantes foram por outras causas”, disse o diretor do Serviço de Urgência de Adulto no HCM, Dino Lopes, em declarações à comunicação social.
O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 09 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição a Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane.
Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este afirmou não reconhecer os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
Após protestos nas ruas que paralisaram o país, Mondlane convocou novamente a população para uma paralisação geral de sete dias, desde 31 de outubro, com protestos nacionais e uma manifestação concentrada em Maputo para quinta-feira, 07 de novembro.
Venâncio Mondlane anunciou quinta-feira que as manifestações de protesto são para manter até que seja reposta a verdade eleitoral.
Também o presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, um dos quatro candidatos presidenciais às eleições de outubro, exigiu hoje uma recontagem dos votos ou a repetição da votação, como formas de repor a “justiça eleitoral”.
Lusa