Luanda – O aumento dos crimes de burla executados a partir de Cabinda tem se tornado uma séria preocupação para as autoridades angolanas, afetando inúmeras vítimas que, em busca de serviços ou produtos acessíveis, acabam por cair nas armadilhas de criminosos cada vez mais sofisticados. Na quinta-feira, 26 de setembro, uma cidadã angolana de 44 anos tornou-se a mais recente vítima desta fraude crescente, perdendo cerca de 490 mil kwanzas numa operação que, à primeira vista, parecia legítima.
Depois de quase dois anos de luta para conseguir enviar o filho para estudar em Portugal, a cidadã, que prefere manter-se no anonimato, finalmente obteve o visto que permitiria a viagem. Ansiosa por realizar o sonho de ver o seu filho ingressar num curso superior no estrangeiro, ela iniciou a busca por um bilhete de avião acessível, recorrendo à ajuda de familiares e amigos. Uma amiga próxima partilhou uma captura de ecrã de uma promoção da TAP Air Portugal, que circulava nas redes sociais, oferecendo descontos de 20% em bilhetes a partir de 305.715,00 kwanzas.
Sem suspeitar de qualquer irregularidade, a vítima ligou para o número indicado na publicidade e foi atendida por um suposto agente, cuja forma profissional de se expressar não levantou desconfianças. Através de uma reserva feita por telefone, ela efetuou o pagamento do bilhete, mas não recebeu a confirmação da reserva.
Preocupada, voltou a contactar o mesmo número e foi informada que havia ocorrido um erro no sistema, sendo necessário um pagamento adicional para corrigir a falha. Foi então que a vítima desconfiou da situação e decidiu dirigir-se à agência oficial da TAP na Avenida 4 de Fevereiro, em Luanda. Lá, foi informada de que tinha sido alvo de burla e que os 490 mil kwanzas pagos pelo bilhete não estavam associados a qualquer reserva.
Ao perceber que havia sido enganada, a vítima contactou de imediato o seu banco para tentar bloquear a conta para onde havia transferido o montante. No entanto, os burladores já haviam retirado todo o valor da conta para a qual o dinheiro foi enviado. Como a transferência foi feita para uma conta no mesmo banco, o valor foi imediatamente refletido, impossibilitando a recuperação instantânea dos fundos. Acredita-se que os criminosos utilizaram máquinas TPA (Terminais de Pagamento Automático) na rua para efetuar a retirada dos valores, evitando assim o limite diário de levantamento de 100 mil kwanzas nos ATMs.
No dia seguinte, sexta-feira, 27 de setembro, a vítima dirigiu-se à esquadra policial do Bem-Vindo, no Benfica, para formalizar a queixa. Com o auxílio dos agentes da polícia, tentou novamente ligar para o número usado pelos burladores, e surpreendentemente, a chamada foi atendida. Os criminosos, sem suspeitarem de estarem a falar com um agente policial, ofereceram a mesma promoção falsa, demonstrando que ainda estão ativos e a enganar mais vítimas.
De acordo com informações preliminares apuradas pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC), esses crimes estão a ser coordenados por redes de burladores que operam a partir da província de Cabinda. As autoridades estão a intensificar os esforços para localizar e capturar os envolvidos. O SIC assegurou à vítima que estão a tomar todas as medidas possíveis para rastrear os criminosos e recuperar os valores roubados.
Este incidente não é isolado, pois tem havido um aumento significativo de fraudes envolvendo a venda de bilhetes de avião falsos e outras burlas em Angola, especialmente a partir de Cabinda. Os burladores têm-se aproveitado da crescente dependência de serviços digitais e da falta de verificação de fontes autênticas, tornando-se cada vez mais sofisticados nas suas operações.
Alertas e Medidas de Prevenção
As autoridades têm apelado à população para que tome precauções extras ao adquirir serviços, especialmente quando se trata de ofertas que parecem demasiado boas para ser verdade. Recomenda-se que as compras sejam feitas diretamente nos canais oficiais das companhias aéreas ou através de agências de viagens reconhecidas.
Para além disso, é fundamental que os cidadãos estejam atentos a sinais de burla, como a exigência de pagamentos adicionais ou atrasos inexplicáveis na emissão de documentos. Em casos suspeitos, as pessoas devem denunciar imediatamente às autoridades para que medidas possam ser tomadas antes que os criminosos consigam retirar os fundos.
O SIC continua a investigar o caso e acredita que, com o reforço da cooperação entre as forças de segurança e a banca, será possível conter a ação destes burladores. No entanto, o público deve manter-se vigilante e bem-informado para evitar ser a próxima vítima.