O presidente do parlamento dissolvido da Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, que regressou hoje ao país após sete meses no estrangeiro, lamentou a falta de segurança no país, que, disse, afeta todos os cidadãos.
Vindo de Dacar, Senegal, após vários meses em Portugal, de onde disse ter viajado para outras partes do mundo para informar sobre a situação prevalecente na Guiné-Bissau, Simões Pereira observou que todos os cidadãos guineenses “temem pela sua segurança”.
“Eu cheguei e estava convencido que estava tudo normal. De repente, dou conta de que há bloqueios de acesso às pessoas ao aeroporto. Há jornalistas que foram agredidos, há jornalistas aos quais foram subtraídos os materiais que tinham utilizado para o seu trabalho”, observou Simões Pereira.
O político referia-se ao repórter de imagem da Lusa, ao qual elementos da Polícia de Intervenção Rápida ordenaram que apagasse as imagens que tinha feito à caravana que acompanhava Simões Pereira no trajeto do aeroporto para a sua residência no centro de Bissau.
O profissional da Lusa relata que foi agredido com um murro nas costas por um agente. Outros tentaram que entrasse na carinha da polícia e que fosse conduzido para a esquadra, o que acabaria por não acontecer.
“Quando a liberdade está em insegurança isso é indício de que quem tem o poder, quem nominalmente diz ter o poder, está com medo”, afirmou Domingos Simões Pereira, em entrevista já na sua residência, no bairro de Luanda, em Bissau.
O também líder da coligação Plataforma da Aliança Inclusiva (PAI — Terra Ranka), vencedora das eleições legislativas de 2023, que estava no Governo e liderava o parlamento, entretanto dissolvido, em dezembro passado pelo Presidente guineense, notou que é chegada a altura das forças vivas se levantarem para tranquilizar o ambiente no país.
Simões Pereira defendeu que sozinho não será capaz de travar essa luta, mas que está numa dinâmica que “deve convocar todos, sociedade civil, partidos políticos” para o fazer.
Questionado sobre a apreensão, pela Polícia Judiciária, de um avião carregado com mais de 2,6 toneladas de cocaína no aeroporto de Bissau, no passado dia 07, Pereira disse que os guineenses se devem levantar para que se clarifique “quem é narcotraficante” no país.
O político, que é igualmente presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), que lidera a coligação PAI-Terra Ranka, observou ser difícil “arranjar adjetivos” perante o caso relacionado com o avião que a PJ diz ser oriundo da Venezuela.
“Quando em plena luz do dia há um avião que aterrou no nosso aeroporto e no qual é apreendida essa quantidade de droga (…), esse é um não Estado”, declarou Domingos Simões Pereira, lembrando que chamou a atenção dos guineenses sobre essa possibilidade, de o país se transformar “num não Estado”.
Domingos Simões Pereira salientou que a tripulação estava “tão a vontade” que nem escondeu a droga que trazia na aeronave.
“Provavelmente os tripulantes, as pessoas que vinham no avião estavam convencidas de ir a um sítio onde costumavam ir”, salientou o político, que pediu uma clarificação, ao invés de se empurrarem responsabilidades sobre de quem é a droga apreendida.
Domingos Simões Pereira defendeu ser preciso que se esclareça a situação, para que se saiba quem é narcotraficante e quem não o é.
Lusa