O Presidente francês, Emmanuel Macron, disse, numa entrevista transmitida hoje, que o território ultramarino da Nova Caledónia, afetada há quase duas semanas por uma vaga de violência, não se pode transformar em “um faroeste”.
Numa entrevista ao canal de televisão público Nouvelle-Calédonie La 1ère, gravada na quinta-feira, durante uma visita de 12 horas ao arquipélago do Pacífico Sul, Macron justificou o envio de três mil efetivos das forças de segurança com a necessidade de um “regresso à calma”.
“A República deve recuperar a autoridade em todos os pontos. Em França, não é cada um que se defende a si próprio”, disse o chefe de Estado, referindo-se aos grupos de milícias que têm organizado a defesa de bairros da capital da Nova Caledónia, Numeá.
“Existe uma ordem republicana, são as forças de segurança que a asseguram”, insistiu Macron, assegurando querer reconduzir o arquipélago ao “caminho do apaziguamento”.
Hoje, no final da visita ao território, o Presidente da França anunciou a suspensão da reforma eleitoral que desencadeou a revolta e provocou pelo menos seis mortos.
“Depois de ouvir toda a gente, comprometi-me a que esta reforma não entre em vigor no contexto atual”, disse Macron em Numeá, citado pela agência de notícias francesa France-Presse.
O chefe de Estado disse que deu às partes “mais algumas semanas” para negociar e comprometeu-se a apresentar um relatório intercalar “dentro de um mês” sobre o futuro institucional do arquipélago.
Macron apelou ainda ao fim dos bloqueios de estradas “nas próximas horas” para levantar o estado de emergência na Nova Caledónia.
O Aeroporto Internacional de Numeá vai permanecer encerrado aos voos comerciais até às 09:00 de terça-feira (22:00 de segunda-feira em Lisboa), disse o diretor da Câmara de Comércio e Indústria do arquipélago francês.
O aeroporto de La Tontouta está fechado aos voos comerciais desde o passado dia 14 de maio devido aos bloqueios de estradas.
A reforma aprovada pela Assembleia Nacional em Paris alargaria o eleitorado para as eleições provinciais a todos os naturais de Nova Caledónia e residentes há pelo menos 10 anos.
Os apoiantes da independência consideram que o alargamento pode “marginalizar ainda mais o povo indígena kanak”, que constitui 41% da população.
O acordo defendido por Macron deve contemplar também um plano para tornar a economia menos dependente do níquel e “a questão de um voto de autodeterminação”.
A Nova Caledónia é um arquipélago situado na Melanésia, a cerca de 1.200 quilómetros a leste da Austrália e a 17 mil de Paris, com pouco mais de 270 mil habitantes.
A população votou em referendos sobre a independência em 2018 e 2019, com o voto favorável à França de 56% e 53%, respetivamente.
Um terceiro referendo em 2020 foi boicotado pelas forças pró-independência, que consideram que a votação deveria ter sido adiada devido à pandemia.
Lusa