A polícia angolana dispersou hoje centenas de mulheres ‘zungueiras’ (comerciantes de rua) que se manifestavam na baixa de Luanda, junto à sede do Governo Provincial, contra a proibição de venda ambulante.
Segundo constatou a Lusa no local, o grupo de mulheres desceu hoje a Avenida de Portugal, dificultando a circulação automóvel e concentrou-se na Mutamba, o coração da capital angolana, onde se localiza também o governo provincial de Luanda.
Em declarações à Lusa, uma das manifestantes disse que o objetivo era chegar ao Palácio Presidencial, para reclamar contra a proibição de venda na zona de São Paulo, que alberga o maior mercado da cidade, mas também onde se concentram centenas de vendedores ambulantes, ocupando passeios e ruas.
O grupo foi dispersado algum tempo depois pela polícia, ouvindo-se algumas explosões.
Em vídeos que circulam na Internet, várias mulheres desfilam pela Avenida de Portugal, algumas levando à cabeça alguidares com os seus produtos e cantam palavras de ordem como “O meu negócio está com a polícia, mas a zungueira não cansa, está sempre na luta”.
Na Mutamba, uma vendedora desafiava: “Comandante, leva a mensagem ao João Lourenço [Presidente da República], a ‘zunga’ não vai acabar, nós acostumamos a ‘zungar’, mesmo o próprio João Lourenço, a mãe dele andou na ‘zunga'”.
Em causa está o anúncio do encerramento de armazéns naquela zona comercial de Luanda, fonte de abastecimento do negócio da maioria das vendedoras ambulantes da área.
O governo provincial de Luanda tem em curso um Plano de Reordenamento do Comércio, que tem “a sensibilização como elemento primário”, como sublinha numa nota sobre o assunto.
“É importante esclarecer que, ao reordenar o comércio, o governo provincial de Luanda não pretende acabar com a venda ambulante na província. O comércio ambulante é uma atividade legal, consagrada na Lei n.º 1/07, de 14 de maio — Lei sobre as Atividades Comerciais”, refere a nota.
O documento salienta ainda que o objetivo é “reorganizar a referida atividade, sobretudo para as vendedeiras que se encontram instaladas em locais impróprios, como passeios e bermas, entre outros, que constituem perigo para quem vende e para quem compra, bem como para a saúde pública”.
A Lusa tentou ouvir a polícia, que remeteu esclarecimentos para mais tarde, bem como o governo da província, sem sucesso.
Lusa