Jornalistas angolanos pediram hoje “liberdade, ética e dignidade” no exercício da atividade, considerando que um jornalismo livre “é único capaz de estar ao serviço da democracia”, lamentando a atual condição social dos profissionais, sobretudo do setor privado.
O quadro do exercício da atividade jornalista em Angola foi apresentado hoje pelo secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), Teixeira Cândido, na abertura da 1.ª Conferência Nacional de Jornalistas, que decorre, em Luanda.
Segundo o sindicalista, a conferência, que decorre sob o lema “Por um Jornalismo Livre, Ético e Digno”, resulta de um repto lançado pelos jornalistas aquando de uma marcha pela liberdade realizada pelos profissionais, em 17 de dezembro de 2022, em Luanda.
“Jornalismo livre, ético e digno, no fundo resumem as nossas convicções, porque entendemos que um jornalismo livre é único capaz de estar ao serviço da democracia, é único capaz de fortalecer o nosso Estado de democrático e uma das principais vias para desenvolver o país”, disse o responsável.
Para o líder do SJA, refletir sobre a liberdade de imprensa “não é um mero exercício de reclamar mais ou menos liberdade”, mas, observou, “pressupõe reclamar a nossa predisposição e convicção de que o desenvolvimento não se conta apenas com o betão”.
“É preciso fortalecer as nossas instituições, daí entendermos que só é possível com um jornalismo livre, uma justiça livre e com todos os outros poderes à altura das expectativas dos cidadãos”, notou.
“Decidimos que não basta termos um jornalismo livre, o jornalismo deve ser ético, que se diferencie das redes sociais, temos deontologia que diz que temos de respeitar o princípio da presunção de inocência, temos que fazer o contraditório sempre que temos uma informação e não achincalhar”, apontou.
Porque “o jornalista tem de fazer um jornalismo isento, plural e independente”, assinalou, Teixeira Cândido, defendendo igualmente dignidade social dos jornalistas.
O secretário-geral do SJA considerou que a condição social dos jornalistas angolanos, sobretudo dos órgãos privados, “não é boa” e o encontro, que assinala também o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, que se celebra nesta quarta-feira, vai observar também a situação social dos profissionais.
“Paga-se mal os jornalistas, não é possível fazermos um jornalismo livre andando no carro da fonte, não é possível fazer um jornalismo livre esperando que a fonte pague ajudas de custo, isso é mendicidade, nos recusamos à mendicidade”, atirou.
A conferência “quer refletir sobre que condições e caminhos podemos ter, em 2018 demos um passo ao setor público, implementamos o qualificador e a situação hoje é melhor, não estão completamente concluídos, mas demos um grande avanço”, frisou.
“O setor privado é uma realidade péssima e temos de recusar essa realidade, daí que esperamos luzes para discutir com os empregadores privados”, salientou.
Teixeira Cândido apelou ainda ao ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, Mário de Oliveira, que discursou na abertura do encontro, no sentido de se concretizar a lei de incentivos à comunicação social.
E o ministro Mário de Oliveira, na sua intervenção, saudou todos os profissionais que exercem a atividade de forma séria, responsável e patriótica, considerando o 3 de Maio como uma data que deve servir de reflexão a nível dos profissionais da comunicação social.
“Este é uma data que deve servir de reflexão da classe, do seu posicionamento na sociedade para com os compromissos do país pelo que saúdo a realização deste fórum e espero que dele saiam recomendações para a classe de forma que todos os juntos possamos nos unir em prol de uma única bandeira que é Angola e só Angola”, disse.
“Aproveito a oportunidade para manifestar a disponibilidade do Ministério em colaborar no dia-a-dia com os organizadores deste evento e com todas as forças vivas de forma de que cada um de nós possamos juntos trabalharmos”, concluiu.
A dimensão jurídica da liberdade de imprensa, acesso à informação das comunidades locais e as rádios comunitárias e a autorregulação são alguns dos temas que serão discutidos nesta conferência que congrega jornalistas das 18 províncias angolanas.
O SJA, a Comissão de Carteira e Ética e Instituto para a Comunicação Social da África Austral – (MISA, na sigla inglesa) são os organizadores desta conferência, que conta com o apoio da União Europeia.
Lusa