Sexta-feira, 29 de Março, 2024

Presidente da RDCongo denuncia que rebeldes não estão a cumprir retirada prometida

O Presidente da República Democrática do Congo denunciou que os rebeldes do grupo M23 não estão a cumprir a retirada que prometeram no nordeste do país, onde lutam contra o Exército congolês desde março, noticiaram hoje os ‘media’ locais.

“Apesar da pressão da comunidade internacional, este grupo simula que se estão a retirar e a deslocar-se para outras zonas (…). Entretanto, o M23 [Movimento 23 de Março] ainda está em algumas localidades que tomaram na República Democrática do Congo (RDCongo)”, afirmou o presidente Félix Tshisekedi num painel no Fórum Económico Mundial em Davos (Suíça), na terça-feira, segundo os meios de comunicação congoleses.

Tshisekedi fez estas declarações depois de vários líderes políticos e militares do M23 se terem reunido na cidade queniana de Mombaça, a 12 de janeiro, com o antigo Presidente deste país e mediador regional da Comunidade da África Oriental (EAC, sigla em inglês), Uhuru Kenyatta.

Nesta reunião, os rebeldes “concordaram em continuar com a retirada ordenada e manter um estrito cessar-fogo”, segundo um comunicado do bloco regional, que patrocina o diálogo de paz iniciado em Nairóbi em 2022 entre o Governo congolês e os grupos armados ativos no leste do país.

Antes, no início do mês de janeiro, esta milícia anunciou a sua retirada da estratégica base militar de Rumangabo, que passou a ser controlada pela nova força militar regional destacada pela EAC (EACRF).

Além disso, em 23 de novembro, os rebeldes organizaram um ato de entrega à EACRF do controlo da área vizinha de Kibumba, mas o Exército congolês considerou este movimento como “uma farsa” e garantiu que os rebeldes se preparavam para ocupar mais territórios.

Para Tshisekedi, “o problema hoje de insegurança na região dos Grandes Lagos chama-se Ruanda”, que Kinshasa acusa de apoiar o M23, uma cooperação confirmada por vários relatórios de peritos das Nações Unidas, mas que Kigali sempre negou categoricamente.

Segundo noticiou hoje a imprensa local, os rebeldes ainda não começaram a retirar-se dos territórios ocupados durante esses meses na província de Kivu do Norte.

Tal devia acontecer antes de 15 de janeiro, de acordo com o roteiro estabelecido pelo Ruanda e RDCongo – sem a presença da M23 – no final de novembro passado em Luanda, conforme detalhou na terça-feira o Presidente congolês.

O M23 foi criado em 2012 como uma dissidência do extinto Congresso Nacional para a Defesa do Povo (CNDP), um grupo de rebeldes maioritariamente de origem ruandesa que lutou em solo congolês contra as Forças Democráticas de Libertação do Ruanda (FDLR) – grupo fundado no ano 2000 pelos líderes do genocídio de 1994 e outros ruandeses exilados, principalmente do povo hutu – para recuperar o poder político no seu país de origem.

Após a integração do CNDP no Exército da RDCongo na sequência do acordo de paz de 23 de março de 2009, os rebeldes do recém-fundado M23 desertaram em 2012 para renegociar esse pacto e melhorar as suas condições.

Especialistas da ONU também confirmaram a colaboração entre o Exército congolês e as FDLR, conforme alega o Ruanda.

A parte oriental da RDCongo está mergulhada em um conflito alimentado por milícias rebeldes e pelo Exército há mais de duas décadas, apesar da presença da missão de paz da ONU (MONUSCO), com mais de 16.000 militares uniformizados no terreno.

Lusa

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