A mulher do ex-presidente do parlamento são-tomense Delfim Neves disse à Lusa que este ainda não tinha sido ouvido pelos militares oito horas depois de ser detido, após ter sido alegadamente responsabilizado por uma tentativa de golpe de Estado.
Delfim Neves, que terminou em 08 de novembro o mandato como presidente da Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe, foi levado hoje de manhã, cerca das 08:00 locais (mesma hora em Lisboa) da sua casa, na capital são-tomense, por militares, que chegaram “todos armados”, num cenário que a mulher, Valentina Neves, descreveu como “uma desgraça”.
Delfim Neves e Arlécio Costa, antigo oficial do ‘batalhão Búfalo’ que foi condenado em 2009 por uma alegada tentativa de golpe de Estado, foram alegadamente identificados como mandantes da “tentativa de golpe de Estado” ocorrida esta madrugada em São Tomé, quando quatro homens, civis, atacaram o quartel militar, segundo informação divulgada hoje pelo primeiro-ministro, Patrice Trovoada, numa conferência de imprensa.
Arlécio Costa e três dos assaltantes morreram, disse à Lusa fonte ligada ao processo.
Ao início da tarde de hoje, Hamilton Vaz, que lidera uma equipa de advogados de Delfim Neves, disse que estava no exterior do quartel a tentar chegar à fala com o seu cliente, mas sem sucesso, denunciando que o antigo presidente do parlamento estava a ser privado do “direito constitucional” de ter acesso à defesa.
Valentina Neves descreveu à Lusa, cerca das 16:00, que o marido tinha conseguido pedir um telemóvel emprestado para lhe pedir que lhe levasse a medicação regular que faz – para a hipertensão e gotas para os olhos -, além de paracetamol.
“Estava todo transpirado, sem água nem comida, numa sala toda fechada e muito quente, sentado numa cadeira. Não lhe fizeram nada, não lhe bateram nem nada”, relatou.
“Está lá até agora, desde manhã ninguém lhe disse nada, não foi ouvido. Não comeu”, indignou-se a mulher, referindo que já teve um encontro com o escritório das Nações Unidas em São Tomé para dar conta da situação.
Segundo informações divulgadas pelo chefe do Governo, Patrice Trovoada, cerca das 00:40 locais (mesma hora em Lisboa), quatro homens, civis, assaltaram o quartel na capital são-tomense, alegadamente com a cumplicidade de militares. Os atacantes fizeram refém o oficial de dia, que ficou gravemente ferido após agressões, mas encontra-se livre de perigo.
O ataque foi neutralizado pouco depois das 06:00, após intervenção dos fuzileiros, com a detenção dos quatro atacantes e de militares que terão estado envolvidos.
“Não se trata de um roubo, não se trata de um furto. Trata-se de um ataque com armas de guerra às Forças Armadas do país e temos primeiro que resolver esse problema”, adiantou hoje de manhã o primeiro-ministro.
O chefe do Governo disse que a “tentativa de golpe” é uma situação “de extrema gravidade”, mas assegurou então que “as Forças Armadas têm a situação sob controlo”.
Patrice Trovoada pediu “mão firme” da justiça para os responsáveis da tentativa de golpe, depois de ter anunciado a detenção de Delfim Neves e de Arlécio Costa pelos militares.
Líder da Ação Democrática Independente (ADI), Patrice Trovoada assumiu há duas semanas o cargo de primeiro-ministro, pela quarta vez, na sequência da vitória com maioria absoluta nas legislativas de 25 de setembro.
Delfim Neves presidiu ao parlamento são-tomense durante o anterior mandato (2018-2022) e candidatou-se às legislativas de setembro com o recém-criado Basta, tendo sido um dos dois eleitos para o parlamento por este movimento.
Lusa