O consumo medicinal de canábis para combater a dor crónica aumenta o risco de sofrer transtornos cardiovasculares, segundo uma investigação dirigida pela médica Nina Nouhravesh, do Hospital Universitário Gentofte (Dinamarca).
A responsável pelo estudo, apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, que se realiza em Barcelona, explicou que a dor crónica é “um problema crescente” e que desde o ano 2000 aumentou em 10% o número de pessoas maiores de 16 anos com a doença.
A médica recordou também que em 2018 foi aprovada na Dinamarca a utilização da canábis medicinal, a título experimental.
“Este estudo investigou os efeitos secundários cardiovasculares da canábis medicinal, e as arritmias em particular, já que se encontraram anteriormente transtornos cardíacos em utilizadores de canábis com fim recreativo”, disse Nouhravesh.
Os investigadores identificaram que 4.931 (0,31%) dos 1,6 milhões de pacientes diagnosticados com dor crónica na Dinamarca entre 2018 e 2021 pediram pelo menos uma receita de canábis.
Os participantes, que tiveram um acompanhamento de 180 dias, tinham em média 60 anos e 63% eram mulheres.
Dos que consumiam canábis medicinal, 17,8% tinha cancro, 17,1% artrites, 14,9% dor nas costas, 9,8% doenças neurológicas, 4,4% dores de cabeça e 3% outros problemas.
O risco de sofrer uma arritmia nova foi de 0,86% nos consumidores de canábis medicinal e de 0,49% nos não consumidores.
“O estudo demonstrou que os consumidores de canábis medicinal têm 74% mais rico de sofrer transtornos cardíacos em comparação com os não consumidores”, apesar de a diferença de risco absoluto ser modesta (de 1.74 pontos), referiu a responsável pelo estudo.
A especialista sublinhou que deve ter-se em conta que uma percentagem dos consumidores de canábis estava a tomar outros analgésicos, admitindo: “Não podemos descartar que isto possa explicar a maior probabilidade de arritmias”.
Lusa