O presidente da UNITA aconselhou o Governo angolano a tirar do plano público a “má imagem de conflitualidade” devido às divergências sobre o funeral de José Eduardo dos Santos, que são consequência da perseguição que moveu contra o ex-presidente.
Angola observa hoje o último dos sete dias de luto nacional em homenagem ao antigo chefe de Estado, que morreu na passada sexta-feira em Barcelona, permanecendo a incerteza sobre a trasladação do corpo, uma vez que alguns dos seus filhos se opõem a um funeral em Luanda antes das eleições.
Adalberto da Costa Júnior disse hoje, num encontro com jornalistas, que, enquanto presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), desde o início chamou a atenção para as “perseguições e proteções”, numa alusão à suposta perseguição da família de Eduardo dos Santos pela justiça em Angola.
“No meu primeiro discurso público chamei a atenção para os riscos da perseguição ao ex-presidente da República, indicando que esta postura não traria resultados positivos para o país e nem para ele próprio [Joao Lourenço, Presidente de Angola e do MPLA, partido do poder]”, afirmou.
Esta posição, continuou, mereceu-lhe acusações de “ter sido comprado pela Isabel [dos Santos]”, empresária e filha mais velha sobre a qual recaem processos judiciais em vários países.
“E é assim que a imaturidade de quem governa se tem manifestado. Não ouvem os bons conselhos e o que hoje o Governo está a colher são as consequências de uma atitude de perseguição”, frisou.
O líder da UNITA lembrou ainda que quando o ex-presidente se deslocou a Angola, no final do ano passado, foi recebido de forma discreta e sem qualquer cobertura noticiosa por parte da imprensa pública.
“Mereceu absoluta ignorância, total, absoluto maltrato. Hoje está-se a chorar no molhado, com a imprudência de estar a gerir mal este dossiê, enviando para Espanha uma equipa para negociar perdões, para negociar aquilo que vem deitar por terra o que se fez de bandeira, que é o combate à corrupção”, criticou Adalberto da Costa Júnior.
Questionado sobre a sua ausência no velório público que decorre desde segunda-feira no Memorial Dr. António Agostinho Neto, com um momento consagrado aos partidos, Adalberto da Costa Júnior criticou os serviços do cerimonial de Estado pela falta de aviso formal e atempado, apelando a que “tratem dos atos de Estado com mais dignidade”.
Por outro lado, descreveu as homenagens que decorrem em Angola como um ato de campanha eleitoral: “Então o Estado organiza uma cerimónia de exéquias e tem lá a figura do candidato do MPLA em grande exposição? Eu acho inadmissível este tipo de falta de respeito. Foi uma cerimónia de propaganda do candidato do MPLA ou foi uma homenagem ao ex-presidente da República?”, criticou, referindo-se à presença de fotos de João Lourenço e à bandeira do MPLA.
“Afinal a bandeira do país é a bandeira do MPLA e os líderes que foram lá chamados foram prestar um ato de campanha eleitoral do MPLA”, denunciou o líder da UNITA, justificando assim a sua ausência.
“Não pode ser assim, o ex-presidente merece as honras e as homenagens, nós achamos que devemos prestá-la, mas não em atos de campanha eleitoral mal preparados”, reforçou.
José Eduardo dos Santos morreu em 08 de julho, aos 79 anos, numa clínica em Barcelona, Espanha, após semanas de internamento e o Governo angolano decretou sete dias de luto nacional.
Eduardo dos Santos sucedeu a Agostinho Neto como Presidente de Angola, em 1979, e deixou o cargo em 2017, cumprindo uma das mais longas presidências no mundo, pontuada por acusações de corrupção e nepotismo.
Em 2017, renunciou a recandidatar-se e o atual Presidente, João Lourenço, sucedeu-lhe no cargo, tendo sido eleito também pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido no Governo desde que o país se tornou independente de Portugal em 1975.
Lusa