O Presidente da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, aceitou, esta terça-feira em Luanda, a pedido do seu homólogo angolano libertar dois militares ruandeses presos pelo exército congolês com objetivo de aliviar a “crescente tensão” entre a RDCongo e o vizinho Ruanda, anunciou a Presidência angolana em comunicado.
“Na sequência do mandato recebido na recente Cimeira de Malabo”, João Lourenço acolheu na manhã de ontem em Luanda, “o Presidente Félix-Antoine Tshisekedi, Presidente da República Democrática do Congo, num encontro para abordar questões relativas à crescente tensão que se regista entre a República Democrática do Congo e a República do Ruanda”.
No encontro “foram discutidos vários aspectos que podem contribuir para a resolução pacífica do diferendo entre os dois países”, avança o comunicado.
“Neste sentido (…) Félix-Antoine Tshisekedi (…) a pedido do seu homólogo angolano, aceitou libertar dois soldados ruandeses capturados recentemente”, acrescenta.
“Esta diligência visa contribuir para a redução da tensão que paira na relação entre os dois países referidos”, explica.
O comunicado refere ainda que na sequência da reunião com o líder da RDCongo, João Lourenço manteve durante a tarde “uma conversa, por videoconferência” com o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, “durante a qual foram discutidos os mesmos aspectos abordados com o seu homólogo da RDCongo”.
“Estas discussões permitiram aos dois chefes de Estado chegar a um entendimento sobre a realização em Luanda, em data a anunciar proximamente, de uma cimeira em que participarão, a convite do chefe de Estado angolano, os chefes de Estado da República Democrática do Congo e da República do Ruanda, a fim de cuidarem de todos os aspectos que possam ajudar, de forma consistente, a promover o desanuviamento da tensão atualmente reinante na fronteira entre os dois países e contribuir assim para o reforço da paz na sub-região”, conclui a nota.
A tensão entre o Ruanda e a RDCongo cresceu exponencialmente nos últimos meses, após o reinício em março último dos combates entre o exército e o movimento rebelde de 23 de Março (M23), que, segundo Kinshasa, é apoiado pelo país vizinho, uma acusação negada por Kigali.
Ambos os países solicitaram a intervenção do Mecanismo Reforçado de Verificação Conjunta (EJVM, na sigla em inglês), estabelecido pela Conferência Internacional da Região dos Grandes Lagos (CIRGL) para investigar incidentes de segurança nos seus 12 Estados-membros.
O Ruanda exigiu no passado sábado que a RDCongo libertasse dois soldados do seu exército raptados enquanto patrulhavam a fronteira com aquele país, no mesmo dia em que o Governo da RDCongo suspendeu os voos da Rwandair para o seu território, em protesto contra o alegado apoio de Kigali aos rebeldes.
Esta segunda-feira, o porta-voz do Governo congolês, Patrick Muyaya, disse que o país não excluiu “a rutura das relações diplomáticas” com o Ruanda.
As forças armadas congolesas reconquistaram na semana passada várias cidades tomadas pelo M23, depois de fortes combates no nordeste do país.
O M23 foi criado em 04 de abril de 2012, quando soldados da RDCongo se revoltaram com a perda do poder do seu líder, Bosco Ntaganda, acusado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) de crimes de guerra por alegadas violações do acordo de paz de 23 de março de 2009, data que deu o nome ao movimento.
Em 2012, o M23 ocupou Goma, capital da província do nordeste congolês do Kivu do Norte, durante duas semanas, mas a pressão internacional obrigou o movimento rebelde a retirar-se e a iniciar negociações de paz com o Governo da RDCongo em Kinshasa.
Durante mais de duas décadas, o leste da RDCongo tem registado conflitos alimentados por milícias rebeldes e ataques do exército congolês, apesar da presença da missão de manutenção de paz da ONU (Monusco), que conta com mais de 14.000 soldados no país.
Lusa/O Guardião