O presidente da União Africana (UA), o líder senegalês Macky Sall, denunciou nesta terça-feira (31) o enorme impacto na sua segurança alimentar das sanções europeias impostas à Rússia e pediu ao bloco que ajude a liberar as reservas de grãos bloqueadas na Ucrânia pelo conflito.
“Queremos que todo o possível seja feito para liberar os estoques de grãos disponíveis e para garantir o transporte e o acesso ao mercado, a fim de evitar o cenário catastrófico de escassez e aumentos generalizados de preços”, declarou Sall num discurso por videoconferência para uma cúpula de líderes europeus.
A eclosão do conflito e as sanções da UE acabaram tendo fortes consequências para a segurança alimentar de muitos países, que importam grandes quantidades de grãos da Ucrânia e da Rússia.
“Esta crise afeta especialmente nossos países devido à sua forte dependência da produção de trigo russa e ucraniana”, disse o líder africano.
“O pior ainda pode estar por vir se a tendência atual continuar”, alertou.
Sall destacou que “os fertilizantes, se houver, estão agora três vezes mais caros do que em 2021 e, segundo algumas estimativas, a produção de grãos na África cairá entre 20% e 50%”.
Sall acrescentou que as sanções da UE aos bancos russos, removendo-os do sistema interbancário SWIFT, também afetam seriamente os países africanos.
“Quando o sistema SWIFT sofre perturbações, isso significa que mesmo que os produtos existam, o pagamento se torna difícil, se não impossível. Eu gostaria de insistir que soluções adequadas sejam encontradas”, disse Sall aos líderes europeus.
No âmbito de um sexto pacote de sanções contra Moscovo, a UE decidiu na segunda-feira à noite privar o principal banco russo, o Sberbank, de acesso ao SWIFT, plataforma que permite operações cruciais como ordens de pagamento.
Chegando à reunião, o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, declarou que o bloco está analisando “como podemos retirar 20 milhões de toneladas de trigo ucraniano. Não é fácil”.
Para Borrell, “está claro que a Rússia está usando o trigo como arma de guerra”.
As forças ucranianas minaram o acesso ao porto de Odessa, no Mar Negro, para impedir um desembarque e, em resposta, a marinha russa organizou um bloqueio.
“Obviamente, é necessário um acordo com a Rússia para usar a rota marítima”, disse Borrell.
Rotas alternativas ferroviárias e rodoviárias estão sendo estudadas, mas na melhor das hipóteses permitirão o transporte de um terço dos estoques de trigo, informou um funcionário europeu à AFP.
AFP