A guerra na Ucrânia e o corte no fornecimento de matérias-primas alimentares vai aumentar a fatura dos países africanos importadores de petróleo em 19 mil milhões de dólares, estimou hoje o Fundo Monetário Internacional (FMI).

“Para os países africanos importadores de petróleo, a crise deverá aumentar a fatura das importações em quase 19 mil milhões de dólares [18 mil milhões de euros], e deste grupo de 37 países, os mais frágeis vão ter uma deterioração de 0,8% na sua posição orçamental, o que é o dobro da média de todos os países importadores de petróleo”, diz o FMI.
De acordo com o relatório sobre as Perspetivas Económicas Regionais, hoje divulgado em Washington na reta final dos Encontros da Primavera do FMI e do Banco Mundial, os países africanos estão particularmente fragilizados na resposta às consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia, já que para além da subida do preço dos combustíveis, registam também uma forte redução nas importações de matérias-primas alimentares.
“O conflito pode fazer aumentar ainda mais os preços alimentares, o que é particularmente preocupante para os países da África subsaariana, que importam 85% do seu trigo, e outros compram uma grande parte das suas importações diretamente à Rússia ou à Ucrânia, o que os torna especialmente vulneráveis a perturbações no fornecimento”, lê-se no relatório.
As matérias-primas alimentares representam 40% da cesta básica de consumo na região, e as importações representam uma proteção importante contra a imprevisibilidade das colheitas devido às alterações climática, lembra o FMI, notando que a “a Rússia é também um importante produtor e fertilizantes e de gás natural, que é fundamental na produção de fertilizantes, por isso um conflito prolongado vai provavelmente aumentar todos os custos agrícolas”.
A dificuldade de importação vai, por seu turno, aumentar a insegurança alimentar e as tensões sociais, já que “quase dois terços das calorias consumidas na região vem de cereais, como o milho, arroz e trigo, e por isso “o aumento dos preços do trigo é especialmente preocupantes, já que mesmo antes da guerra na Ucrânia, o número de pessoas subnutridas tinha mais do que duplicado em 2021, para quase um quarto da população na sequência da pandemia de covid-19”.
A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, desencadeando uma guerra que provocou um número de baixas civis e militares ainda por determinar.
A ONU confirmou na terça-feira que pelo menos 2.787 civis morreram e 3.152 ficaram feridos, mas manteve o alerta para a probabilidade de os números serem consideravelmente superiores.
O conflito, que dura há 64 dias, levou mais de 5,3 milhões de pessoas a fugir da Ucrânia, na pior crise de refugiados na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia, segundo a ONU.
Lusa