Os rebeldes do Tigray recuperaram neste domingo (12) Lalibela, cidade ao norte da Etiópia que abriga um sítio inscrito no patrimônio da Unesco, onze dias depois de o governo etíope ter anunciado que a tinha tomado dos milicianos, informaram moradores à AFP.
O anúncio representa uma nova reviravolta dramática neste conflito que se estende há mais de um ano, deixou milhares de mortos e que gerou uma profunda crise humanitária.
Lalibela é famosa por suas igrejas talhadas na rocha e foi classificada pela Unesco como patrimônio mundial. Situa-se 645 km ao norte da capital, Adis Abeba, e é um local de peregrinação para os cristãos etíopes.
Os combatentes do Tigray “estão no centro da cidade, não houve combates”, declarou um morador por telefone na tarde deste domingo.
Outro morador disse: “voltaram, não estão mais aqui”.
“A população está assustada em sua maioria. Alguns fugiram. A maioria já partiu porque pode haver vingança. Nós expressamos nossa alegria quando se foram”, acrescentou a testemunha.
Durante o domingo, o comando militar da Frente de Libertação do Povo do Tigray (TPLF) difundiu em veículos afins um anúncio de que seus combatentes tinham lançado “contraofensivas global” em vários pontos, especialmente na estrada entre Gashena e Lalibela, na região de Amhara.
“Nossas forças se defenderam primeiro e depois lançaram contraofensivas contra o enorme contingente que atacou o front de Gashena e as áreas vizinhas, e conseguiram uma vitória gloriosa e surpreendente”, informaram os rebeldes na declaração.
– Deslocamentos maciços de pessoas –
As comunicações estão interrompidas nas áreas de combate e os jornalistas têm acesso restrito, o que dificulta uma verificação independente das posições no terreno.
O governo não respondeu de imediato aos pedidos de comentários da AFP.
A guerra no norte da Etiópia começou em novembro de 2020 depois que o primeiro-ministro, Abiy Ahmed, enviou o exército para a região do Tigray para desalojar os membros do TPLF que desafiaram sua autoridade e aos quais acusa de atacar suas bases militares.
Em junho, os rebeldes retomaram a maior parte do Tigray e avançaram para as regiões vizinhas de Afar e Amhara.
Em 25 de novembro, o primeiro-ministro anunciou que liderava pessoalmente uma contraofensiva e desde então informou a retomada de várias localidades, entre elas Kombolcha e Lalibela. Por sua vez, os rebeldes da TPLF asseguram ter realizado retiradas estratégicas para se reorganizar.
O temor de que os rebeldes cheguem à capital levou países como Estados Unidos, França e Reino Unido a instarem seus cidadãos a deixarem a Etiópia o mais rapidamente possível, embora o governo afirme que a cidade é segura.
Os combates provocaram o deslocamento de dois milhões de pessoas e levaram centenas de milhares a sofrer condições similares à fome extrema, segundo estimativas da ONU. Além disso, há informes de massacres e estupros em massa cometidos pelos dois lados.
Os intensos esforços diplomáticos liderados pela União Africana para conseguir um cessar-fogo não tiveram nenhum avanço.
A ONU estima que os mais de 13 meses de conflito tenham deixado 9,4 milhões de pessoas em uma situação “crítica de assistência humanitária” na região do Tigray, Afar e Amhara.
AFP