Quinta-feira, 12 de Dezembro, 2024

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Milhares saem à rua no Sudão para pedir Governo totalmente civil

Milhares de pessoas saíram hoje às ruas da capital do Sudão, Cartum, pedindo um Governo totalmente civil, depois de as relações entre os generais militares e a sociedade civil se terem deteriorado nas últimas semanas.

O Sudão é governado por um executivo interino misto, que conta com civis e militares, desde 2019, depois do afastamento do então Presidente, Omar al-Bashir, que foi o culminar de quatro meses de protestos.

Desde aí, as consequências têm sido voláteis. Há poucos dias, um outro grupo mobilizou-se em apoio aos líderes militares, tendo o protesto de hoje sido uma resposta.

“Vamos marcar, com os nossos protestos, uma nova onda de revolta popular que vai abrir caminho para uma liderança totalmente civil e democrática”, refere uma declaração da Associação de Profissionais Sudaneses, grupo que liderou a revolta que se iniciou em dezembro de 2018 e que pediu grandes manifestações para hoje, citada pela agência Associated Press (AP).

Milhares de homens e mulheres responderam ao apelo da associação e marcharam hoje pela capital, agitando a bandeira sudanesa e entoando cânticos de liberdade e revolução.

As tensões entre militares e civis intensificaram-se depois de as autoridades interinas terem dito que frustraram uma tentativa de golpe de Estado dentro das Forças Armadas — tendo acusado al-Bashir de ser leal à tentativa de golpe.

O anúncio das autoridades despertou também, entre os civis, o receio de que os militares pudessem sequestrar a transição do país para um regime democrático civil.

Na semana passada, o primeiro-ministro sudanês, Abdallah Hamdok, admitiu que o país está a atravessar uma das piores crises políticas desde o início do período de transição democrática.

“Não estou a exagerar se disser que esta é a pior e mais grave crise que estamos a atravessar e que ameaça a transição”, afirmou Hamdok num discurso à nação, referindo-se à tensão entre militares e civis após a tentativa de golpe de Estado preparado, segundo o Governo, pelos “restos” do regime do antigo Presidente Omar al-Bashir.

Face a esta situação, Hamdok diz ter realizado “várias reuniões com todas as componentes das instituições de transição para dialogar e encontrar pontos comuns entre as partes” com o objetivo de “assegurar a unidade do país”.

Após as consultas, o primeiro-ministro sudanês indicou que foi acordado um roteiro de 10 pontos entre os quais destacou o trabalho em “todas as instituições da transição longe de disputas”, assim como a “não tomada de medidas unilaterais”, defendendo que o país “não aguenta mais conflitos”.

As declarações de Hamdok surgem dias depois de o general Abdelfatah al Burhan, presidente do Conselho Soberano, o mais alto órgão executivo no processo de transição sudanês, ter dito que não há soluções para a situação atual do Sudão à exceção de “dissolver o Governo” e “alargar a base dos partidos políticos no Governo de transição”.

Após a tentativa, civis e militares, que alternam o poder até às eleições estabelecidas pelo acordo alcançado após o derrube de al-Bashir, em 2019, atiraram diferentes acusações quanto à autoria.

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