Domingo, 29 de Junho, 2025

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Comércio informal eleva trocas entre países africanos para perto de 30% – Afreximbank

O economista-chefe do Banco Africano de Exportações e Importações (Afreximbank), Hippolyte Fofack, disse hoje à Lusa que as trocas comerciais entre países africanos podem valer já 30% do total se for contabilizado o comércio informal.

“O Relatório Económico sobre África é o primeiro estudo abrangente sobre o comércio transfronteiriço no continente, o que já em si é significativo, mas a análise dos dados mostra que podemos não estar a capturar a totalidade do comércio, porque ele pode representar o dobro dos valores atuais”, disse à Lusa o economista-chefe do Afreximbank.

Falando à Lusa por videoconferência desde o Cairo, a sede do Afreximbank, Fofack lembrou que o comércio entre os países africanos tem aumentado nos últimos anos, mas considerou que representa ainda uma pequena fração do que pode vir a valer.

“Nos últimos 10 a 15 anos temos assistido a um movimento ascendente do comércio transfronteiriço africanos, há 15 anos estas trocas valiam 8% e no ano passado representaram 15% do total, o que é ainda baixo se compararmos com os 72% da Europa ou até os 52% da Ásia, mas esse crescimento mostra que o potencial que o acordo tem para insuflar África dos choques externos é enorme”, disse o economista camaronense.

“O acordo de livre comércio vai ajudar a migrar muito do comércio informal para o espaço formal da economia, e isso é muito bom para o futuro do comércio intra-africano”, acrescentou, salientando que “está a ser feito um caminho para a formalização do comércio, que não acontece da noite para o dia, vai demorar tempo”.

Na terça-feira, a Comissão Económica das Nações Unidas para África lançou o Relatório Económico sobre África, fortemente dedicado ao comércio intra-africano e ao lançamento do acordo de livre comércio (AfCFTA, na sigla em inglês) dentro de duas semanas, a 1 de janeiro, que isenta 90% dos produtos e serviços africanos de taxas alfandegárias no continente.

Questionado sobre as principais dificuldades que o acordo vai enfrentar, Fofack respondeu que “mudar mentalidades é o mais difícil”, mas manteve-se otimista.

“Às vezes o melhor para mudar as mentalidades é mesmo uma lei, e uma vez assinado o acordo, ele torna-se a lei da terra, e a questão da implementação vai ser parte do desafio, mas para isso há mecanismos de sanções para incentivar ao cumprimento”, disse o responsável, ligando as reticências de alguns setores à previsível queda da receita e perda de quota de mercado.

“A curto prazo, para os países que dependem fortemente de receitas provenientes do comércio intra-africano, o custo dessa liberalização pode ser significativo, com uma importante perda de receita, e o ajustamento fiscal pode ser duro”, admitiu, elencando as linhas de apoio que o Afreximbank lançou.

“O panorama vai ficar melhor, embora uns possam não beneficiar tanto como outros, mas também na União Europeia, por exemplo, acontece o mesmo”, lembrou.

Para além das dificuldades, Fofack elencou à Lusa dois receios sobre potenciais efeitos nefastos da aplicação do acordo: “Se não tivermos cuidado, pode dar-se uma desvalorização competitiva, em que os países usam a taxa de câmbio como ferramenta para atrair investimento, e sem progressos rápidos, haverá dificuldade em implementar reformas se houver essa prática por parte dos governos”, disse.

Para além disso, concluiu, há também o risco de a infraestrutura logística não acompanhar as necessidades de produção que as regras de origem vão impor aos países, dificultando a prática atual de um país pequeno importar da China, por exemplo, e vender em mercados maiores.

“Temos mercado mas vamos conseguir produzir os bens de que precisamos para esse mercado? As regras de origem podem acabar por impedir isso, temos de garantir que estas regras não se transformam num constrangimento ao crescimento, caso não haja fontes de produção alternativa no continente”, argumentou.

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