As primeiras vacinas contra a covid-19 já começaram a ser usadas, sem que houvesse esclarecimentos completos sobre seus efeitos colaterais.
– Quais os efeitos colaterais?
Dados detalhados sobre as duas vacinas mais avançadas foram divulgados esta semana e ambas são consideradas seguras.
Por um lado, os dados da vacina Pfizer/BioNTech – já autorizada em vários países – apareceram na revista médica NEJM, após terem sido divulgados pela United States Medicines Agency (FDA).
O ensaio clínico realizado com cerca de 40.000 voluntários mostra que esta vacina causa efeitos colaterais clássicos, às vezes incômodos, mas sem perigo: 80% dos vacinados tinham dor no local da injeção, muitos experimentaram fadiga, dores de cabeça e rigidez muscular e alguns registrado inchaço temporário nos gânglios linfáticos. Os efeitos foram mais frequentes e intensos nos jovens.
Dados de outra vacina, a da AstraZeneca e da Universidade Britânica de Oxford, apareceram em outra prestigiosa revista médica, The Lancet, que mostram que essa vacina, administrada a 23.000 voluntários no âmbito de um ensaio clínico, “é segura”.
Essas vacinas são baseadas em duas técnicas diferentes. A da Pfizer/BioNTech usa uma tecnologia até então inédita chamada “RNA mensageiro”. Já a da AstraZeneca/Oxford é uma vacina de “vetor viral”: ela é suportada por outro vírus (um adenovírus do chimpanzé).
– Um nível elevado?
Na França, o infectologista Eric Caumes garantiu a vários meios de comunicação que estava pessoalmente relutante em receber a vacina Pfizer/BioNTech, porque “nunca observou” uma frequência “tão alta” de efeitos colaterais.
“Essas vacinas são conhecidas por induzirem reações fortes: seu nível de segurança é muito satisfatório, mas causam dor no braço, causam fadiga. Isso precisa ficar claro para os cidadãos”, ressalta a virologista Marie-Paule Kieny numa audiência parlamentar.
– Quantos efeitos colaterais graves?
Para as vacinas Pfizer/BioNTech e AstraZeneca/Oxford, os efeitos colaterais até agora são poucos.
Apenas um paciente que recebeu a vacina AstraZeneca/Oxford teve um “efeito colateral sério possivelmente relacionado” à injeção, de acordo com dados publicados no The Lancet.
Foi um caso de mielite transversa (uma condição neurológica rara) que levou à interrupção temporária do estudo no início de setembro.
Dois outros casos de efeitos colaterais graves foram detectados, sem serem atribuídos à vacina.
No caso da vacina Pfizer/BioNTech, o único efeito colateral potencialmente preocupante são quatro casos de paralisia de Bell, uma condição facial frequentemente temporária.
Mas essa frequência (quatro casos em 18.000 pessoas atendidas por dois meses) não difere daquela observada regularmente nessa paralisia e, portanto, não se sabe se foi causada pela vacina.
Por fim, foram registados oito casos de apendicite entre os vacinados, contra quatro no grupo placebo, aos quais a vacina não foi administrada, mas sim um produto neutro para poder se fazer comparações. Porém, a FDA acredita que esta é apenas um azar estatístico não relacionado à vacina.
– E as alergias?
No dia seguinte ao início da campanha de vacinação com o imunizante da Pfizer/BioNTech no Reino Unido na terça-feira, as autoridades britânicas anunciaram que duas pessoas reagiram mal à injeção. Todos foram afetados de antemão por alergias graves.
Isso leva as autoridades de saúde a não aconselharem a vacina a pessoas que tiveram uma “reação alérgica significativa a vacinas, medicamentos ou alimentos” no passado.
No entanto, “isso não significa que a população em geral deva temer a ideia de receber a vacina”, explicou Stephen Evans, professor de farmacoepidemiologia da London School of Hygiene & Tropical Medicine, citado pela agência britânica Science Media Center (SMC).
– Que perguntas continuam em suspenso?
O principal questionamento tem a ver com a hipótese de que ocorram efeitos indesejáveis posteriores, uma vez que até o momento há poucos testes com essas vacinas.
Mas embora elas sejam autorizadas com urgência devido à pandemia, seus dados continuarão a ser examinados pelas autoridades de saúde mundiais à medida que as vacinas são aplicadas, para que possam reagir imediatamente se necessário.
Este cuidado é denominado farmacovigilância quando se trata de medicamentos, e vigilância da vacina no caso de vacinas.